Novos Povoadores®

Apoiamos a instalação de negócios em territórios rurais

Interculturalidade: O fator chave do desenvolvimento





Somos os atores principais das nossas vidas.

A crise dos refugiados não deixa ninguém indiferente.
Tal como na tragédia do Titanic, alguns salva-vidas acolheram apenas metade da sua capacidade, enquanto outros 1514 passageiros morreram congelados ao largo da Terra Nova.

Hoje, 100 anos depois, discutimos o acolhimento daqueles que fogem da guerra.
Somos europeus e vivemos na terra desejada para os sírios. E entre nós, existe quem tenha a ousadia de pensar que deveremos barrar essa entrada, atirando milhões de seres humanos para a morte.

Irónico.
Um continente em envelhecimento entende que não tem espaço para acolher quem nos pede auxilio.

Mais grave.
A História, para quem a conhece, revela que o desenvolvimento nasce na interculturalidade.
Charles Darwin explica que aqueles que melhor se adaptam aos novos contextos são os que têm maior probabilidade de sobrevivência.

A pena de morte foi abolida na Europa - excepção da Ditadura Lukashentina na República da Bielorrússia - mas diversos governos europeus continuam a marginalizar milhões de seres humanos que apelam por auxilio.

Ruralidade com futuro!
Para além do despovoamento, os territórios rurais na Europa têm recursos para acolher novos residentes.
Se esses residentes trouxerem novas competências, poderemos construir uma ruralidade com futuro: mais inclusiva, mais inovadora, mais efectiva.

O desafio está nas mãos daqueles que não se resignam ao papel de figurantes das suas vidas.

"O Escritório em Qualquer Lugar" por @CiscoPortugal


Viagens longas, estar no escritório a horas certas e com flexibilidade limitada são coisas cada vez mais do passado. No futuro vamos assistir a um aumento da mobilidade no local de trabalho que vai criar o “escritório em qualquer lado”, um local onde os funcionários podem trabalhar a qualquer hora e a partir de qualquer lugar.
Quem vai ser o líder da mobilidade em 2013? Veja a resposta neste infográfico interactivo.


A flexibilidade e mobilidade no local de trabalho estão a tornar-se componentes atractivas nos processos de recrutamento e retenção. 66% dos profissionais de TI inquiridos afirmaram que aceitariam uma oferta de trabalho que pagasse menos para terem mais flexibilidade na utilização de dispositivos, acesso aos social media e maior mobilidade. Trabalhar a partir de casa também não incentiva a “preguiça”. 45 % dos teletrabalhadores admitem trabalhar duas e três horas extra por dia quando trabalham remotamente.
Aumento da produtividade e retenção de talentos são apenas dois dos benefícios de uma força de trabalho móvel. Sim, há mais.
Hipoteticamente, se 50 milhões de pessoas nos EUA trabalhassem a partir de casa metade do tempo, seria possível reduzir as viagens rodoviárias em cerca de 146 mil milhões de quilómetros por ano. Uma consequência de menos tempo na estrada seriam a prevenção de 77 mil acidentes e mortes no trânsito e também reduzir o consumo de petróleo em 281 milhões de barris. Para enquadrar este número, 281 milhões de barris significam 46% das importações do Golfo Pérsico.
Em 2013, os trabalhadores móveis vão representar 35% da força de trabalho global. Isto mostra-nos um novo mundo de oportunidades. Está a mudar o seu negócio para o novo “Escritório em Qualquer Lado”?

A piranha autárquica

Há um drama no memorando assinado com o FMI e a UE.
O poder autárquico vai ser atirado às piranhas mas ninguém vai querer meter a mão no assunto para não ficar sem ela. Ninguém duvida que este é um país onde concelhos e freguesias nasceram com a generosidade viçosa dos cogumelos. Serviram para tudo, sobretudo para criar clientelas musculadas e bajuladoras. Os novos regedores valem votos e gerem interesses para os quais os líderes partidários olham envergonhados mas que, no momento da verdade, não renegam. Não admira que, tal como a justiça, deva ser um alvo de reforma. Há um problema. Reformar as autarquias não trará uma digestão fácil a quem tiver de a fazer. Causará, muito provavelmente, alguma congestão política. Reformar as autarquias é decisivo. Mas requer uma gestão prudente, num país que se inclinou demasiado para o litoral.

Por isso não pode ser feita por pura lógica matemática ou por excelso interesse partidário. São os abusos que estão em causa, não os princípios. A menos que a ideia do FMI e da UE seja desertificar Portugal e transformá-lo numa grande Lisboa com zonas adjacentes para as praias e o golfe. Reformar a teia autárquica requer criar verdadeiros pólos no interior que não sejam apenas centros de emprego mas verdadeiros íman para o repovoamento agrícola e social, que será fundamental num novo Portugal. A reforma autárquica não pode ser uma acção de contabilidade e de engenharia financeira supervisionada pelo FMI e pelos burocratas que em Bruxelas destruíram, com a ajuda amiga da ASAE, metade dos restaurantes populares do interior. Terá de ser conciliada com a visão de D. Sancho I, o Povoador.

in Negócios, Fernando Sobral

Projecto Novos Povoadores é alternativa à vida na cidade

«Muitas pessoas que vão para o interior já não regressam à cidade», garantiu à TSF um dos membros do projecto Novos Povoadores, que orienta quem quer viver com menos custos e mais qualidade de vida fora das metrópoles.

Um grupo de pessoas que integra o projecto de repovoamento de zonas rurais, denominado por Novos Povoadores, tem, desde há alguns anos, rumado ao interior desertificado de Portugal para ganhar qualidade de vida.

Em declarações à TSF, Frederico Lucas, um dos membros deste projecto, confirma que alguns dos efeitos da crise estão a mobilizar as pessoas para mudar de vida.
«Existe mais gente a manifestar interesse em mudar para o interior do país há medida que os encargos sobem e os rendimentos descem na cidade», disse.

Aliás, sublinha o "povoador", o movimento de migração está a gerar um «fenómeno». «A maioria das pessoas que vão para o interior já não regressam à cidade. Apesar de terem nascido e vivido nas áreas metropolitanas querem, agora, outro estilo de vida», explica.
Frederico Lucas, do projecto Novos Povoadores, considera positiva a chamada de atenção do Presidente da República, que, no discurso das comemorações do 10 de Junho, alertou para a desertificação do interior de Portugal, sublinhando as potencialidades das terras do interior.

«Foi discurso importante para as pessoas que estão a ir para o interior e que o fazem com algum receio. Elas olham com esperança para esta mudança, mas têm receio porque é um modelo de vida que ainda está a nascer em Portugal. E, claro, questionam se é bom», conclui.

in TSF

Islândia: A crise levou o dinheiro, mas não a criatividade



O lixo diminuiu um quarto, em Reiquiavique. As prateleiras dos supermercados deixaram de ter tantos produtos importados. Algumas famílias começaram a cultivar quintais. E a tricotar camisolas. Os Range Rovers agora chamam-se game-overs. Consumir? "Isso é tão 2007..." Os bancos faliram, as famílias entraram em bancarrota, o Estado estremeceu. Veio o FMI, mas o sistema de proteção social não mudou. Democracia: é a receita dos islandeses para sair da kreppa, o nome islandês da crise. Os banqueiros vão ser julgados. O anterior primeiro-ministro vai ser acusado. A Constituição está a ser revista por cidadãos comuns. A pequena ilha nórdica quase foi ao fundo, mas está a reinventar-se.

O sorriso de menina de Salvör esconde-lhe a determinação. Veste uma saia acima do joelho, botas altas, um casaco rosa. Tem os olhos castanhos, uma raridade nesta confluência genética de íris claras e olhos rasgados. Filha de um ex-governador do Banco Central, é professora de Ética, diretora do departamento, na Universidade da Islândia. "Nunca me interessei por política", diz, a rir, no seu novo gabinete, que ocupa desde novembro de 2010.

Ela é uma das 25 pessoas "comuns", cidadãos dos 18 aos 91 anos, eleitos pelo povo para reescrever a Constituição do país. Foi a revolução que a levou para a política. É preciso entrar em bancarrota para que um país se dê conta da falta que faz uma professora de Ética.

Salvör, 48 anos ("quarenta e qualquer coisa... ai... sim, quarenta e oito"), foi apanhada pelo turbilhão. Os bancos faliram, o Governo não teve dinheiro para os salvar. Nacionalizou-os, mas não assumiu as maiores dívidas. Vieram as histórias de compadrio, corrupção, o buraco negro de milhares de milhões de euros, a súbita e inesperada fragilidade das pessoas. A pobreza, o desemprego. "Era preciso dar uma resposta", explica Salvör.

Dois meses depois da crise, desencadeada em outubro de 2008, e de a revolução se ter instalado nas ruas de Reiquiavique a capital, com milhares de islandeses dispostos a tudo para conseguir uma solução para os seus problemas, Salvör integrou a Comissão Especial de Inquérito que reconstituiu a história da kreppa islandesa, o mais extraordinário e abrupto crash da história económica do mundo, parafraseando o Prémio Nobel da especialidade, Paul Krugman.

Eram apenas seis, na Comissão. Três especialistas em Ética, dois advogados e um economista. E muito já diz esta composição... Salvör leu todos os documentos, vasculhou a incrível história de banqueiros como Jon Asgeir Johnnesson, o maior acionista do banco Giltnir, o primeiro gigante a falir. Um multimilionário que vivia do crédito do seu próprio banco (e de outros). Tinha um iate de luxo, um avião privado e dois apartamentos de 25 milhões de dólares, em Manhattan, Gramercy Park.

Em 2 400 páginas, a Comissão de Salvör contou todas as histórias. E a população não fez orelhas moucas. O relatório todo (investigado e escrito entre janeiro de 2009 e março de 2010) foi lido, por atores, no Teatro Municipal de Reiquiavique. A leitura era retransmitida pela rádio. Mas há um resumo possível, numa página: a "teia" de relações entre os banqueiros, os reguladores e os responsáveis políticos. Uma espécie de organograma da catástrofe, com linhas retas e ligações sinuosas. Foi essa a imagem que ficou, até porque três dias depois de ser conhecido, o relatório ficou submerso pela erupção do vulcão Eyjafjallajökull, em 21 de março de 2010. "Não lixem a Islândia. Podemos não ter dinheiro, mas temos fogo", diz uma das T-shirts expostas na livraria IDA, em Reiquiavique.

Foi naquela comissão que nasceu a mais surpreendente das ideias: "É preciso repensar a República, tornar a discussão sobre as responsabilidades do poder mais democrática. É preciso empenhar as pessoas", explica Salvör, com uma expressão terna, enquanto caminha por uma sala ampla, dividida em cubículos numerados de 1 a 25, o local onde se reúnem os representantes do povo mandatados para rever a Constituição, pela primeira vez, desde que a Islândia se tornou independente da Dinamarca, em 1944.

Há ali pescadores, agricultores, professores, funcionários públicos. Cidadãos, entre os 18 e os 91 anos, que se propuseram para reescrever a lei fundamental do país, depois da crise. Salvör faz parte dos 25. "Foi a primeira vez que me candidatei a qualquer coisa", diz, a rir. Concorreram 552 islandeses. "Era uma experiência. Ninguém sabia como fazer... Os candidatos não sabiam como apresentar o seu programa. Os media não sabiam como proceder, não podiam dar espaço a mais de 500 candidaturas..." Resultado: "Usei o Facebook. Mandei mails a todos os meus contactos. Fui construindo uma rede", recorda. No dia 27 de novembro do ano passado, Salvör foi escolhida, numa eleição nacional inédita. E, na primeira reunião dos 25, elegeram-na para presidir aos trabalhos. Tem agora pouco mais de dois meses para escrever a nova Constituição islandesa, que terá de ser sufragada pelo atual Parlamento, e pelo próximo que resultar das futuras eleições legislativas (uma salvaguarda que pretende tornar a lei mais importante da Islândia imune às conjunturas políticas).
Acusar os responsáveis

Está a nevar, mas os rapazes caminham pela rua de T-shirt, e as raparigas de minissaia. O vento faz os farrapos de gelo rodopiar pelo ar, mas, ao longo da estada, no meio de quilómetros de desoladores campos de lava, há fumarolas e vapor de água fervente a subir em colunas direitas. A paradoxal Islândia não se deitou no divã do psicanalista depois do colapso financeiro. A kreppa não é o fim. Pode ser, até, um recomeço.

Embora seja a casa que Bryndis e Johannes queriam, a sala está despida de luxos. Despojada. Paredes brancas, quatro fotografias pequenas penduradas, dois sofás, um cadeirão e uma mesa que enchem de pequenos pães redondos, acabados de cozer, manteiga, café. "Desde que não piore, acho que aguentamos", diz a terapeuta da fala, de 37 anos, enquanto adormece o filho, Eysteinn, de 2 anos, no colo. O mais novo dos três filhos do casal nasceu depois do crash. E já não conheceu "o País mais feliz do mundo" (segundo o ranking do jornal inglês The Guardian) em que os irmãos, Gudmundur e Sigtryggur, de 12 e 4 anos, tiveram a sorte de nascer. Eysteinn é alérgico a derivados do leite e, também, ao mais comum dos substitutos lácteos, a soja. Agora, no supermercado, faltam os gelados, o leite e a manteiga que tolera comer. As importações caíram, dizem as estatísticas.

O marido de Bryndis, Johannes, 38 anos, é professor de Linguística, especialista em sagas medievais islandesas - um género literário que perpetua os feitos sanguinários dos primeiros colonizadores desta ilha do Atlântico Norte, a meio caminho entre a Europa e a América, encostada ao Ártico. "Antes, quando éramos mais jovens, esperávamos que o nosso tempo chegasse. Que a prosperidade viesse. Agora não...", diz, com os cotovelos apoiados nos joelhos, mãos na cara. Mas não é assim que acaba uma saga. A desilusão não parece paralisar a "geração parva" da Islândia.

Johannes saiu à rua, no frio inverno de 2008, de frigideira na mão, como milhares de outros islandeses. Fez parte da revolução. Exigiu transparência, democracia, soluções para os seus problemas. E vá algum português atrever-se a explicar a um islandês que "tristezas não pagam dívidas"...

Salvör Nordal, 48 anos, deve ter-se cruzado com Johannes, na praça Austurvöllur, a praça da revolução, fronteira ao edifício novecentista do Parlamento, o Althingi (o primeiro edifício islandês a ser construído com casa de banho). Os islandeses reencontraram-se ali, com o seu destino. O país que liderava o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, de repente, via-se num espelho deformado. Caminhando sobre o gelo frio e quebradiço. Como qualquer Argentina ou Zimbabué, endividado até ao fundo dos bolsos.

De um momento para o outro, os islandeses foram à procura dos culpados, apontaram o dedo. Mas também procuraram soluções. Houve quem inventasse um "Ministério das Ideias". E houve, também, uma reunião inédita da Thjodfondur, uma espécie de assembleia geral do povo, com mil representantes que debateram os "valores" que queriam para um novo país sair da crise.

Da comissão de inquérito saíram duas investigações. Uma judicial, aos banqueiros, que procura responsabilidades criminais. Foi a magistrada francesa, Eva Joly, que montou as bases da Procuradoria-Especial para os Crimes da Banca, liderada pelo islandês Olafur Thor Hauksson, que já deteve para interrogatório e mandou arrestar bens dos principais banqueiros que dominavam o sistema financeiro do país, antes do colapso.

Dali saiu, também, e pela primeira vez na História da Islândia, uma investigação especial à responsabilidade política. O Supremo Tribunal islandês, constituído por peritos em leis e políticos nomeados pelo Parlamento, vai reunir-se em breve para julgar o ex-primeiro-ministro Geir Haarde, acusado de incompetência e má gestão. Um terço dos funcionários da agência estatal de regulação passaram a trabalhar para os bancos que deviam fiscalizar. O Governo promoveu, até à véspera da falência, os feitos dos "novos vikings" (o cognome dos banqueiros). O Estado falhou.
'Deus abençoe a Islândia'

Os Range Rovers estão a envelhecer. Os velhos edifícios de madeira, cobertos com chapas de zinco coloridas, vão manter-se no seu lugar. Não hão de nascer arranha-céus envidraçados nos quarteirões mais característicos de Laugavegur, a avenida central de Reiquiavique, como desejavam os banqueiros. Em vez de lojas Armani, abrem apenas modestos estabelecimentos como o da Associação de Tricotadeiras da Islândia ou lojas de roupa em segunda-mão.

E os todo-o-terreno que luziam de novos estão a caminho de integrar o parque automóvel mais velho da Europa. Chamam-lhes, agora, os "game-overs". Ainda são muitos, mas já não representam a maior concentração do mundo por habitante, como até há dois anos. Rolam, matraqueando os pregos que trazem incrustados nos pneus, pela neve de Laugavegur, no passeio quotidiano de fim de semana. Thetla reddast! "No final, tudo vai correr bem."

Bryndis não repete esta crença islandesa nos amanhãs que cantam. O melhor que lhe sai, enquanto atrás de si, do lado de fora da janela da sua sala branca, a neve cai sem parar, é "a vida continua". Foi aqui, nesta sala, acabada de comprar, no outono de 2008, que percebeu. "Tudo colapsou..." Estava a pintar as paredes de branco, com Johannes, o seu marido, e tinha o rádio ligado. No início, tudo corria bem.

O número 4 da rua Gladheimar, uma vivenda geminada de dois pisos, materializava um sonho antigo. Uma sala grande, espaço para os livros de Johannes, quartos para os filhos, Gudmundur e Sigtryggur (Eysteinn haveria de nascer, em 2009). A casa velha tinha apenas 68 m2, e ainda rendeu um lucro de 37 mil euros. Mas o rádio, naquele 8 de outubro de 2008, tinha más notícias para Bryndis e Johannes, enquanto pintavam a sala.

O primeiro-ministro Geir Haarde, líder do Partido da Independência, conservador de direita, que ganhou todas as eleições legislativas na Islândia desde 1946, está a discursar em direto. No final, diz uma frase que deixa Bryndis, Johannes e o país inteiro de olhar parado, em suspenso: "Deus abençoe a Islândia." De lá para cá, o casal concentra-se em "não permitir que a situação afete as crianças". Deixaram de ir comer fora, "cinema só uma ou duas vezes por ano". Alugaram um quintal, onde cultivam "saladas, cenouras, batatas". Para pouparem no supermercado, sim, mas também para "passar às crianças o valor da terra".

A frase de Haarde deixou os islandeses perplexos. Einar Mar Gundmundsson está em Copenhaga a falar sobre a sua obra literária e recebe a mensagem. "Deus abençoe a Islândia." Mete-se num avião para Reiquiavique, no dia seguinte. Thór Saari está no seu gabinete da OCDE, na Universidade de Reiquiavique, e vê a expressão preocupada de Haarde, na televisão. Diz: "O homem parece fora de si... Que discurso é este?" Raghneidur está grávida, sentada no sofá da sua sala, em repouso, e liga para o marido Ólafur. "O que é isto? O que se passa?" Lilja Mosesdóttir veio para Reiquiavique, a macrocéfala capital, que concentra quase metade da população, com um doutoramento em Regulação Financeira e a promessa de um contrato na Universidade da Islândia. Aos 48 anos, esta economista deixou a sua carreira universitária no Norte do país para ouvir, incrédula, a funcionária da Universidade dizer-lhe que o contrato não será assinado. Não há dinheiro.
De manifestante a deputada

Os bancos faliram. Foi como se uma praga do Velho Testamento atingisse a economia islandesa: o Giltnir, o Kaupthing e o Landsabanki, juntos, valiam dez vezes o Produto Interno Bruto do país. Como peças alinhadas de um dominó, as casas desvalorizaram-se, em média 30% (a de Johannes e Bryndis perdeu 31 mil euros do seu valor, em três dias), ao mesmo tempo que os empréstimos subiam (20%, no mínimo). A inflação aumentou e arrastou os empréstimos bancários para máximos históricos, que se manterão para sempre, a menos que uma vaga de deflação, muito improvável, corrija a subida. O Governo desvalorizou a coroa islandesa para absorver o impacto, mas isso não ajudou nada a vida de quem tinha empréstimos em moeda estrangeira (ienes, euros, dólares ou francos suíços). Os preços subiram. Os salários perderam valor. Quase metade das empresas faliu. E o contrato de Lilja foi-se, no turbilhão. A professora universitária passou a integrar a mais inconcebível das novas estatísticas islandeses: 9% de desempregados, num país que sempre vivera em pleno emprego.

Johannes fez como Lilja, Thór, Einar Már e milhares de outros. Pegou numa frigideira da sua cozinha nova e veio para a rua. Bater em tachos e panelas foi a forma que os islandeses encontraram para protestar contra esta espécie de apocalipse que lhes trouxe o destino. O destino e um grupo pequeno de banqueiros e políticos.

Hoje, dois anos e meio depois da "revolução das frigideiras", Lilja recebe-nos à porta do Althingi, o Parlamento islandês. É deputada.

Não há detetores de metais nem polícia. O funcionário trata a deputada pelo seu primeiro nome. E Lilja mostra-nos como viu, do lado de fora, o que agora vê por dentro. Durante as manifestações, os deputados hesitavam em cruzar o passadiço de vidro que liga o velho edifício ao novo anexo onde se situam os gabinetes. "Houve quem atirasse pedras, mas os vidros são à prova de bala..." Com uma voz pausada e suave, Lilja Mosesdóttir conta como passou de manifestante a eleita do povo: "A economia colapsou em três dias. As pessoas tornaram-se ativas. Muito ativas... Deixei as minhas pesquisas académicas e fui ler tudo o que havia sobre políticas de reação à crise." Na pequena sala de sessões do Althingi, as paredes são verdes e azuis. As cadeiras estão tão juntas que nenhum deputado se pode levantar, sem pedir licença ao colega do lado. Sentam-se aqui 63 eleitos, uma representação à medida deste país de 320 mil habitantes. Os lugares são rotativos. Os partidos não mandam na distribuição das cadeiras. Cada lugar é sorteado, anualmente, o que faz com que Lilja, que começou por integrar a bancada dos Verdes de Esquerda, e agora é independente, possa ter como vizinhos deputados da Aliança Social-Democrata, ou do Partido da Independência, ou do Partido do Progresso (ruralista, de direita), ou do Movimento, a nova formação que emergiu dos protestos de 2008.
Humor na 'fortaleza de marfim'

Thór Saari é o presidente do Movimento. Mas esse também é um cargo que roda, todos os anos. O Movimento é, aliás, um partido com os dias contados, explica Saari: "Temos um programa de três pontos: aprofundar a democracia; resolver o problema das famílias endividadas; e acabar com o desemprego. Ao fim de dois mandatos, se conseguirmos cumprir o nosso programa, acabamos. Se não conseguirmos, acabamos também", ri-se Thór que, tal como Lilja, é economista, especialista em dívida, e trocou as sebentas pela política, no calor da revolução de 2008. Trabalhava para a OCDE, em Reiquiavique, e já tinha sido quadro do Banco Central islandês e do Instituto de Gestão da Dívida. Encontrou-se com a rua. "Conhecemo-nos todos aqui", conta Thór Saari. "Passámos aqui seis dias e seis noites, sem sair, até que o Governo se demitiu. Uma revolução pacífica, na rua, no inverno, na Islândia... Ninguém pensava que fosse possível. Mas foi." Entre o dia 8 de outubro (quando Bryndis pintava a sua sala e o primeiro-ministro disse "Deus abençoe a Islândia") e o dia 6 de janeiro de 2009, data em que Haarde se demitiu e convocou novas eleições, a praça Austurvöllur foi o verdadeiro Parlamento. Primeiro, surgiram as frigideiras e o protesto sem programa, o choque puro e simples. Depois, fez-se um cordão humano, mais simbólico que ameaçador, à volta do Althingi, para impedir os deputados de entrar. A seguir, houve quem hasteasse uma bandeira da cadeira de supermercados Bónus (um porquinho sorridente) no mastro da bandeira nacional - porque essa cadeia pertence ao principal vilão islandês do momento, Jon Asgeir Jhanesson, o tal milionário a crédito. À medida que se iam conhecendo os contornos da falência dos bancos, e da promiscuidade entre a alta finança e a política, houve quem passasse à ação direta: o carro do primeiro-ministro foi apedrejado, os banqueiros foram atingidos com ovos, as suas casas foram pintadas de vermelho.

Thór chegou ao Parlamento, "a fortaleza de marfim", como lhe chama, no dia 25 de abril de 2009, e, com ele, uma maioria de esquerda, uma coligação entre social-democratas e Verdes de Esquerda. O Governo é liderado por Jóhanna Sigurdardóttir, social-democrata de 68 anos, lésbica. A aliança que apoia o Governo é frágil, e acaba de resistir, por apenas dois votos, a uma moção de censura, no Parlamento. Thór Saari e Lilja Mosesdóttir votaram para que o Governo caísse.

No Althingi senta-se, também, o antigo responsável ministerial pela banca. "Arrasta-se pelas paredes, calado. É um tipo simpático, mas, depois do que aconteceu, não pode voltar a ser um político digno de confiança", observa Saari.

O Movimento diz-se "acima do espetro", nem de esquerda nem de direita. E Thór garante que não é só isso que o separa dos políticos tradicionais. "Quando vim para aqui, estava a preparar um doutoramento em Filosofia. E reparo, todos os dias, que os políticos não pensam em termos de certo ou errado. Pensam na dicotomia possível versus impossível. Nós não somos políticos." A política islandesa foi tomada por não-políticos. Jon Gnárr, por exemplo, era um punk-rocker e comediante, famoso pelas suas rábulas na televisão. Quando fundou o Melhor Partido (um nome que deve render bons direitos de autor), ninguém o levou a sério. Quando ganhou, com 34% dos votos, a Câmara de Reiquiavique, ninguém pensou que se mantivesse lá por muito tempo. Quando desfilou, vestido de Rainha de Inglaterra, na parada gay de 2010, muitos acharam que estava acabado. E quando, na semana passada, se recusou a receber o comandante de uma embarcação militar alemã, e declinou a autorização para que o navio (que transportava um helicóptero de busca e salvamento que seria emprestado à Islândia) lançasse âncora no porto principal da capital islandesa, os esgares multiplicaram-se. Gnárr é um "anarco-situacionista" que faz política a rir, no meio do "teatro do absurdo" que, nas suas palavras, é a política do país.
Lápis contados

Absurdo. A megaloja de materiais de construção Bauhaus está pronta há dois anos, ali a dois passos de Reiquiavique, mas nunca chegou a abrir. Na principal autoestrada que sai para o Norte, Fellshlid Mosfellssdeit era o sítio onde as pessoas soltavam os cães para um passeio pelos campos. Vieram os bancos e as construtoras e nasceram os arruamentos. O alcatrão negro está impecável. As rotundas distribuem as ruas. Mas não há destino. Só alcatrão e rotundas e postes de eletricidade. Os lotes de terreno ladeiam esta cidade sem casas. Uma grua ficou ali, esquecida, entre as placas da Remax com o "vende-se" agora menos apelativo do negócio imobiliário.

"O setor da construção foi dizimado, em 2008", explica Thorolfur Mathíasson, diretor do departamento de Economia da Universidade de Reiquiavique, no seu gabinete, onde há um quadro cheio de rabiscos com gráficos de curvas acentuadas. Ao contrário da construção, as pescas e a energia estão a trazer para cima os indicadores da Islândia.

A atividade vulcânica é aproveitada para fornecer água quente a todas as casas (a água fria nem sequer tem contador doméstico). E, também, para fazer funcionar as gigantescas fundições de alumínio, exploradas por multinacionais americanas, que rivalizam com a pesca, no topo das exportações islandesas.

Energia foi aquilo que o assunto Icesave retirou, na opinião de Mathíasson, ao país para sair, ainda mais depressa, da crise. O caso arrasta-se, depois de, por duas vezes, em referendo, os islandeses terem recusado o acordo estabelecido entre o seu Governo e a Inglaterra e a Holanda. O Icesave era uma filial online do Landsbanki, que faliu, em outubro de 2008. Cerca de 400 mil depositantes britânicos e holandeses ficaram com o seu dinheiro congelado (cerca de 5 mil milhões de euros, no total). O Reino Unido aplicou a sua Lei Antiterrorista para forçar a Islândia a pagar. E, como não teve êxito, resolveu adiantar o dinheiro (como o Governo de Haia) do seu próprio orçamento, enviando a fatura para Reiquiavique. O Governo islandês procurou negociar um pagamento faseado. Mas o Presidente da República (ver entrevista) não assinou o acordo, levando o assunto a referendo. A população rejeitou aquela solução.

Como consequência, a Islândia não pode pedir dinheiro emprestado nos "mercados". Tem de viver com empréstimos bilaterais (China, Polónia) e com o empréstimo do FMI, negociado em 2008.

O principal negociador do FMI na Islândia foi o mesmíssimo Poul Thomsen, o dinamarquês de olhos azuis que aterrou em Lisboa há poucas semanas. Lilja Mosesdóttir reuniu-se com ele e considera-o "muito bem preparado" e até "permeável às reivindicações do povo". Na Islândia foi assim... "Em Portugal, também pode ser, se as pessoas lutarem pelo que querem", aconselha Lilja.

Mathíasson também considera "justa" a abordagem do FMI. "Impuseram uma redução do défice, mas não estabeleceram condições para os cortes. Isso acontece, talvez, porque o FMI não tem de convencer o eleitorado, como tem a chanceler alemã, Ângela Merkel..." Na Islândia, os cortes orçamentais preservaram o sistema de proteção social. No hospital de Bryndis, agora, há que "pensar duas vezes antes de fazer uma fotocópia". Os lápis estão contados, sim. Fecharam serviços públicos (hospitais e escolas), mas não houve cortes nos apoios sociais, nem privatizações. Pelo contrário, o welfare islandês foi elogiado pelo FMI, e até cresceu, nestes últimos anos (ver caixa). Há pressões para privatizar as empresas energéticas, mas o Governo opõe-se e, garante Sälvor Nordal, a futura Constituição vai defender que a propriedade dos setores essenciais (como a energia) seja pública.

Mesmo assim, o país está a crescer economicamente. "Há uma resiliência silenciosa da economia", explica Mathíasson.
Portugueses e islandeses: as diferenças

Talvez esta "resiliência silenciosa" esteja nos genes do povo, também.

Paulo Cardoso vive em Reiquiavique desde 1997. É um dos pouco mais de 600 portugueses registados na Islândia (já foram cerca de mil). Foi estudar. Apaixonou-se por uma islandesa. Casaram. É especialista em sistemas informáticos para a banca, mas continua a frequentar pós-graduações e mestrados (Relações Internacionais, Gestão). Compara, assim, os dois povos que tão bem conhece: "A população, aqui, é muito ativa. Os portugueses toleram muito... Aqui, não há tanta tolerância como em Portugal." Esta impressão faz sentido aos olhos de uma islandesa com o trajeto de vida inverso ao de Paulo. Gudlaug Run Margeirsdóttir estudou em Portugal, licenciou-se em Literatura, em Coimbra. Apaixonou-se por um português. Casaram. Só regressou, de vez, a Reiquiavique em 2007. E vê assim as diferenças entres estes dois pequenos povos, com um acentuado "complexo de inferioridade": "Os islandeses são menos complacentes. No dia a dia, os portugueses são mais críticos. Os islandeses são mais reservados. Em Portugal, pode dizer-se que 'isto é uma porcaria' e continuar a gostar de viver assim. Parece que os portugueses têm medo de ser um pouco mais agressivos. Às vezes, pergunto-me por que os portugueses não agem mais em vez de falarem tanto..." Gudlaug é tradutora literária. Traduziu para português o Nobel islandês, Halldór Laxness, autor do romance Gente Independente, que caricatura a obstinação e o tradicionalismo rural dos islandeses. Traduziu, também, o mais celebrado dos autores contemporâneos, Einar Mar Gudmundsson.

Einar vive nos arredores de Reiquiavique, numa vivenda a meia encosta de uma montanha. Tem um anexo, de madeira, ao lado da casa, onde trabalha. As paredes estão forradas com lombadas. Há livros numa mesa enorme de madeira. Há originais datilografados pelo chão. E um Saramago traduzido para islandês numa das prateleiras altas. "Jantámos juntos, uma vez", recorda Einar, enquanto nos serve café por um termo.

Einar fez quatro discursos, no improvisado palanque da praça da revolução. Sempre que falava, lia. Na primeira vez, estava a seu lado o dirigente sindical dos eletricistas, Gudmundur Gunnarsson, pai da cantora Björk. Entrou, a fundo, na revolução. Integrou comités de debate. Reuniu-se com especialistas. Foi um dos rostos da organização dos protestos. E continuou a escrever. O seu Livro Branco, entre o ensaio e a ficção, é o primeiro relato da crise. E foi formando convicções. "Isto não é uma questão judicial, é uma questão moral. Não tenho qualquer esperança nos inquéritos aos banqueiros ou ao primeiro-ministro." Viu "felicidade" nas pessoas que consigo discutiam. E novos valores: "O consumismo deixou de ser o mais importante. Agora, por toda a cidade, há gente que não se conhecia e que partilha ideias e projetos."

O lixo diminuiu um quarto, em Reiquiavique. Mas aumentaram as doenças relacionadas com o stresse: ataques cardíacos, AVC. Os doentes afásicos de Bryndis não podem ser sujeitos a qualquer tipo de conversa sobre bancos e política, porque "isso torna a terapia mais difícil, se existe stresse".

Mas há coisas que nunca mudam. O cartão de crédito é indispensável em qualquer bolso de islandês. Paga-se a crédito a cerveja que se bebe na discoteca, o táxi, o restaurante, o supermercado. Isso é "tão 2007", diz a expressão crítica, inventada para afastar os fantasmas do passado.

"Aprendemos devagar", ri-se Ragnheidur Birna Bjornsdóttir, 36 anos, especialista informática da Segurança Social. Na sua casa, a crise não foi sentida como na maioria dos lares islandeses. Ólafur, o marido, de 46 anos, gestor, explica porquê: "Sempre soube que os bancos não são nossos amigos. Estão a tentar fazer negócio. Não posso confiar cegamente neles." Quando os bancos faliram, o casal amortizou a hipoteca e pôde seguir com a vida em frente. Mesmo que a sua expressão se carregue, ao falar da corrupção endógena "nesta pequena sociedade em que toda a gente se conhece", Ólafur mantém o humor. E Ragnheidur cita a frase que dá alento, mesmo que o frio gele os ossos e a dívida se avolume, thetta reddast, "no fim, tudo vai correr bem".

Afinal, riem-se, à mesa da sua sala, nos arredores da capital, "talvez ainda sejamos a nação mais feliz do mundo..."

in Revista Visão, Paulo Pena

Blogues & Companhia

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"Os Portugueses precisam de sair da sua zona de conforto" por @JotaNR

Os empresários e investidores portugueses têm de ir para além da "proximidade", seja ela o espaço europeu (em que se concentram) ou o de língua comum. Têm de ter em conta a geoeconomia em profunda transformação, diz o guru indiano Pankaj Ghemawat

Os empresários e investidores portugueses têm de saber lidar com as diferenças quando se internacionalizam e ir para além da "proximidade", seja ela o espaço europeu (em que se concentram) ou o de língua comum. Têm de ter em conta a geoeconomia em profunda transformação e saber diversificar, procurando os mercados que estão a dar cartas no crescimento mundial. Mas para isso não se devem deixar vencer ou intimidar pelas barreiras.

Esta foi a principal mensagem de Pankaj Ghemawat (um nome difícil, que ele aconselha que se leia assim: pun-kuj ghé-má-wut), de 51 anos, nascido em Jodphur, na Índia, atual professor de estratégia global no IESE-Instituto de Estudios Superiores de la Empresa em Barcelona, na conferência que realizou em Lisboa na AESE-Escola de Direcção de Negócios no quadro do Programa de Alta Direcção, e que reafirmou em entrevista.

P: A principal mensagem que quis deixar em Lisboa é que os empresários portugueses têm de ser mais ousados na internacionalização?

R: Sim. Têm de sair da sua zona de conforto. Estão concentrados excessivamente na Europa. E os mercados europeus, em geral, não são os que mais vão crescer no futuro. É preciso avançar para além dessa proximidade. A Espanha fê-lo no caso da América Latina. A ideia de uma expansão internacional incremental, passo a passo, não é o futuro. E a híper-focalização na Europa é um enorme risco para o futuro. Onde é que vão estar os mercados de exportação e de investimento? - é essa a questão que se devem colocar.

P: Mas devem evitar algumas ilusões, é esse o outro lado da moeda? A globalização continua a ser um mito muito propagandeado?

R: Temos de ter um método empírico - olhar os dados da realidade. Por isso eu falo de semi-globalização para dar uma noção mais realista e para insistir na questão de que continua a haver fronteiras, de que há diferenças e da importância de saber lidar com elas. E tenho a sensação que o mito do "mundo plano" está a passar. Tudo começou com Ted Levitt nos anos 1980 e a ideia de uma estratégia para um mundo integrado de mercados, depois com Frances Cairncross e a "morte das distâncias" nos anos 1990 até à mais recente ideia de que o "mundo é plano" de Thomas Friedman.

P: As redes sociais na web podem alterar as estratégias de internacionalização, facilitam a globalização?

R: É algo ainda novo e parece-me haver muito exagero à volta. Tenho algum ceticismo, por isso. O meu exemplo favorito nas tecnologias de informação é o Linux. É uma força poderosa de mudança. Na realidade, dá poder às pessoas - mesmo às pessoas pobres, como acontece no meu estado de origem na Índia, o Rajistão, onde os camponeses podem verificar quem é dono da terra.

P: A semiglobalização pode ainda acentuar-se mais se as políticas protecionistas e eventuais guerras de divisas ganharem predominância?

R: Estou muito preocupado com os desequilíbrios mundiais. Por exemplo, os excedentes chineses - eis algo com que nos devemos preocupar seriamente. Se esses caminhos que refere ganharem predominância, coisas realmente muito más podem acontecer.

P: A estratégia de projeção global das grandes empresas das economias emergentes pode mudar esse contexto e reforçar a globalização? Por exemplo, o investimento chinês no estrangeiro excluindo o setor financeiro aumentou 36% em 2010.

R: Não creio que altere qualitativamente. Os grandes investimentos da China e da Índia no mundo não são mais do que 1 a 2% do PIB. A maioria desses investimentos fora são na energia, nos metais e em projetos agrícolas. Não creio que se trate de um novo tipo de estratégia.

P: Tem algum exemplo de internacionalização que o tenha surpreendido?

R: Há um caso fascinante - o da Orbea, do País Basco, o maior fabricante de bicicletas de Espanha, que é parte do grupo cooperativo Mondragón, mas que também fabrica roupa e capacetes. Acabou por criar uma linha de montagem no Arkansas para o mercado americano em que apostou. Realizou a externalização das componentes menos importantes na China. Mas mantiveram o design no país de origem.

P: Ter duas sedes, uma no país de origem, e outra numa região que se considere chave para o futuro, é uma boa solução?

R: A Cisco parece querer ser o modelo desse ponto de vista. Nomeou um chefe de globalização com sede em Bangalore, na Índia, cidade que foi designada como centro oriental de globalização. Julgo ser exequível em algumas funções, por exemplo o que fez a Wall-Mart com o centro de compras mundial em Shenzhen, no sul de Cantão, junto a Hong Kong O mesmo fez a IBM que deslocou o responsável global de aprovisionamentos da região de Nova Iorque para a mesma cidade do sul da China, onde ficou sediada essa função. Mas criar centros de poder iguais parece-me muito mais difícil. A matriz que se cria é muito complicada. E há um problema crítico - se quiser recuar, como é? Sou, por isso, um pouco cético.

P: Qual é a sua principal mensagem no novo livro que vai lançar em maio intitulado 'Word 3.0'?

R: Que a ideia do "mundo é plano" é terrivelmente errada. O que é fundamental é reconhecer as semelhanças, mas também as profundas diferenças entre países que têm de ser tomadas bem a sério. Os níveis de globalização, como já referi, são ainda limitados. Por isso falo de semi-globalização. Mas isso não invalida que não haja muitas oportunidades por descobrir - se souber lidar com as diferenças. É esse o mundo 3.0 de que falo no livro.

Evite atitudes bipolares

Pankaj Ghemawat tem insistido em alertar os empresários para a fantasia de que o "mundo é plano". Os escritores "globalistas" têm vendido a ideia de que a internacionalização de produtos e serviços é hoje um passeio triunfal por uma carpete vermelha, pois assistiríamos a uma uniformização no consumo (uma convergência de gostos, como dizia Ted Levitt) e a um desabar de barreiras geográficas, administrativas, culturais.

Ora a realidade é madrasta, está longe dessa ficção. Por isso fala de uma situação de semi-globalização em que, em 2010, as exportações são apenas 23% do produto mundial, os fluxos de investimento direto estrangeiro ocupam apenas uma fatia de 9,9% da formação bruta de capital fixo e o índice de transnacionalização das 100 maiores empresas do mundo é apenas de 63%.

Aponta estes números para que os empresários caiam na realidade - pois, todos os "testes" de perguntas que se fazem sobre estes indicadores revelam uma sobrestimação enorme, na ordem do dobro ou mesmo do triplo. "Continua a haver uma intuição muito exagerada sobre a globalização. As pessoas erram por margens enormes - dão largas ao exagero", diz o professor de estratégia. Aliás, isso foi bem patente no "teste" que Ghemawat fez junto dos participantes do Programa de Alta Direção em Lisboa.

Por isso, o professor indiano de estratégia é particularmente ácido contra "a petulante superioridade das elites classificadas como 'homens de Davos' y globocratas, a insegurança terminal de todos aqueles que tentam estar atualizados ao dia, ou a utopia cândida dos internacionalistas".

Há quatro anos publicou na editora da Harvard Business School um primeiro manifesto contra esse mito, carregado de exemplos práticos e com "dicas" práticas, que intitulou 'Redefinindo a Estratégia Global - atravessando fronteiras num mundo em que as diferenças ainda contam'.

Nesse livro, Ghemawat desenvolve um modelo de avaliação das distâncias (culturais, administrativas, geográficas e económicas) para tornar visíveis as diferenças tanto nacionais como a nível setorial e advoga uma palete de estratégias de criação de valor que designa por triplo A: adaptação, agregação e arbitragem. Chama a atenção, em particular, para a arbitragem, ou seja "explorar as diferenças, em vez de as tratar como limitações que se devem modificar ou superar" ou, em muitos casos, que levam a desistir à partida. Recomenda, por isso, que se evitem "atitudes bipolares face à globalização" - da euforia à negação, ou vice versa.

Ghemawat foi professor na Harvard Business School durante 25 anos até vir para Barcelona em 2006.

in Expresso, Jorge Nascimento Rodrigues

The shrinking city: Detroit considers concentrating growth, letting vacant areas go rural

Resources may be focused along a light-rail line and on downtown, Midtown, and the better-positioned neighborhoods.

Mayor Dave Bing launched a community outreach process in September that will probably result in a plan for returning parts of Detroit to almost rural conditions.
By some estimates, 40 square miles of the 139-square-mile Motor City currently lie vacant. Roughly 33,000 houses reportedly stand empty, and 91,000 residential lots are unoccupied. Once the nation’s fifth-largest city, home to 1,849,568 people at its peak in 1950, Detroit is now down, by one count, to fewer than 800,000 inhabitants.
With Michigan’s auto industry stripped of its former muscle, many believe Detroit must concentrate its resources and population in fewer, well-chosen places — and encourage some of the semi-abandoned areas to revert to farm fields or nature. The test of how far Detroit goes in that direction will be a new city vision — a strategy for “right-sizing” Detroit — scheduled to be released in December 2011.
In recent months, debate among those with extensive knowledge of Detroit’s situation has favored strengthening the urban qualities of downtown, Midtown — where institutions like the Detroit Institute of Art and Wayne State University are clustered — and other districts that have mostly remained stable.
Midtown, north of downtown, has experienced an influx of young people, artists, and others in recent years as old buildings have been converted to lofts, and other housing has been built from scratch. In all, 3,500 dwellings have been created in Midtown in the past decade, says Mark Nickita, principal of Archive Design Studio, a Detroit architecture and urban design firm. Restaurants, cafes, and music venues have flourished in part because Wayne State, with more than 30,000 students, functions as a permanent anchor, making Midtown one of the most stimulating sections of the city.
“Midtown is going to be a dense area, especially once we get light rail down Woodward Avenue,” says Samuel Butler, who co-chaired the Futures Task Force of Community Development Advocates of Detroit — a group that in late 2008 began devising ideas to “reinvent” the city.
Leaders in government and the private sector succeeded this year in winning a $25 million federal TIGER grant to build an initial 3.4-mile segment of the Woodward Light Rail Line. That sum, when combined with approximately $125 million already raised from philanthropic sources, should make it possible to begin construction within the next two to three years on the segment from the Detroit River through downtown and Midtown to West Grand Boulevard.
If additional funds are secured, a second phase, extending the line to Eight Mile Road (for a total length of 9.3 miles) could be operating by 2016. The full line is estimated to cost $450 to $500 million, much of which would have to come from the Federal Transit Administration.
Andre Brumfield, director of urban design and planning at the Chicago office of the design firm AECOM, led a team looking at how to transform the Northend neighborhood, a distressed area that would be served by the light-rail line. “The new neighborhood plan calls for high-density, mixed-use development oriented around [Northend’s] three transit stations,” Brumfield explained in Model D, a Detroit online periodical.
Northend’s housing would include townhouses and three-story walk-ups, which could have retail on the ground floor. “The area will also include new community parks, space for high-tech or light industrial businesses, and some land for urban agriculture,” said Brumfield. “It’s a big transformation for an area that was historically dominated by the single-family home.”
Nickita sees Eastern Market, a produce market whose historic sheds have been restored, as another focal point of Detroit’s future urban life, benefiting from the surge of interest in “Detroit-grown” agricultural products. Hundreds of community gardens have been established in the city in the past few years.
Dying neighborhoods, tomorrow’s farms?
There has been talk about offering incentives to entice the remaining residents of largely abandoned areas to move into denser neighborhoods, where they would enjoy access to a greater range of nearby services and might feel safer because of more neighbors and more eyes on the street.
It has been suggested that hold-outs might be forcibly relocated — an idea repeated many times by the news media. However, forcing people to leave their homes — except in the case of dangerous code violations — seems unlikely. Memories of the urban renewal’s dislocations remain too painful, especially in a city where at least 76 percent of the population is African-American.
Certainly some deteriorated neighborhoods will lose their last vestiges of urbanism. Mayor Bing has pledged to demolish 3,000 empty residential buildings by the end of this year and to raze a total of 10,000 over four years — a big jump from recent years.
Some of the cleared land could be turned into individual or community gardens, parks, recreation areas, or, in more extreme cases, assembled into tracts large enough for commercial farming.
Businessman John Hantz, who built up a financial holding company called Hantz Group, in nearby Southfield, has in the past two years established a company called Hantz Farms LLC with the intention of creating in Detroit “the largest urban farm in the world.”
Hantz says he will spend up to $30 million on his farming venture. He dismissed some competing ideas for the use of empty land, telling an interviewer, “If you turn it over to parks and recreation, you add costs to an overburdened city government that can’t afford to teach its children, police its streets, or maintain the infrastructure it already has.”
In late September, Michael Score, president of Hantz Farms, told an architects’ gathering that the company is working at assembling 120 acres — the size of tract the company believes is needed to make a farm profitable. Acquiring clear title to such a large contiguous expanse of urban land has proven to be a challenge, but Score said the farm can work around hold-out properties, just as farms in rural areas work around scattered buildings in the landscape.
The company is considering a variety of things to plant, including Christmas trees and an apple orchard. Score has said the company would deploy the latest in farm technology, such as compost-heated greenhouses and hydroponic and aeroponic growing systems.
It’s possible that farms and gardens will be merely a holding stage, until more lucrative or job-generating use of vacant land turns up — factories, for example.
“I don’t think urban agriculture is the silver bullet,” says Butler, who is now working with a committee that’s fleshing out Community Development Advocates’ vision of the future. Even if the persistent problem of pollution of the land is overcome — many urban gardens have to use raised beds filled with new soil — “urban agriculture isn’t going to produce the jobs,” Butler says. “I’m not convinced it’s going to give Detroit an economic advantage. We need to compete with other post-industrial cities around the nation, like Cleveland.”
Urban and community gardening seems mostly to excite educated white people, Butler observes, while African-Americans, many of whose grandparents were sharecroppers, are often not eager to get into farming.
Shrinking a city’s costs
A leading reason why cities talk about “shrinking” is that they can no longer afford all the things they’ve customarily paid for. If large areas become uninhabited or very lightly populated, a number of expenses can be reduced.
“A road that gets very little traffic doesn’t need the same kind of paving,” says Margaret Dewar, a University of Michigan planning professor. “It may not need curbs.”
Where residents are sparse, garbage collection could be done in one run — down just one side of the street, saving a trip, Dewar says. “Maybe you have to wheel your garbage to the end of your street,” where, she hypothesizes, the block’s garbage could be collected from a single location. If an area were largely emptied of residents, it might be possible to cut off water and sewer service — and have any stragglers convert to wells and septic tanks.
“It’s possible to scale down police, fire, garbage hauls,” says Hunter Morrison, longtime planning director for Cleveland before he accepted a position as Youngstown State University’s liaison to the City of Youngstown on development issues. Other operations are more difficult to reduce effectively. Open land requires basic maintenance “unless you plant wildflowers,” Morrison says.
“Some systems are not paid for by the city at all,” he points out. “The gas lines are operated by the gas company, so you’re not saving the city money” by having them removed.
With one-third of Detroit’s population living in poverty, quite a few residents don’t have cars. Partly because of that, Nickita’s firm produced a plan for a “nonmotorized transportation network” that bicyclists and others can use to get from place to place, separate from the streets.
A 1.35-mile segment of that network, the Dequindre Cut Greenway, opened in May 2009, featuring a 20-foot-wide paved pathway with separate lanes for cyclists and pedestrians. It runs below grade on the former right-of-way of the Grand Trunk Railroad. Splashed on some of the remaining structures along its route is graffiti, regarded by some as urban art. “All the overpasses are sort of ruined,” Nickita acknowledges. A shrinking city has its own aesthetic.

in New Urban Network

Os novos empresários tradicionais

A Santa Casa da Misericórdia quer requalificar as atividades tradicionais e através do microcrédito fomentar a criação de pequenos negócios locais gerados por grupos carenciados.

Fomentar a criação pequenos negócios locais capazes de assegurar a empregabilidade e subsistência dos seus promotores e gerar a criação de emprego, é o objetivo da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que anunciou a sua intenção de apoiar a criação de 100 novos negócios por ano, com recurso ao microcrédito. Floristas, cabeleireiros, sapateiros, peixeiras, engraxadores ou até cauteleiros são alguns dos profissionais que podem beneficiar com este programa, mas a instituição tem na mira outros negócios.

Entre meados de 2006 e o ano passado, a Santa Casa de Lisboa apoiou cerca de 200 pessoas na criação do seu próprio negócio. A taxa de sucesso das empresas criadas foi tal que motivou a instituição a criar há pouco mais de um ano o Departamento de Empreendedorismo e Economia Social, com o objetivo de incentivar a criação do autoemprego, detetar o espírito de empreendedor local e fomentar a materialização de novos negócios com potencial financeiro.

António Santos Luiz, vice-provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, assume que “o empreendedorismo social é um desafio com futuro”. Apesar da instituição ter alcançado até à data resultados muito positivos na sua intervenção neste domínio, o responsável acredita que “é necessário desenvolver um apoio mais forte para que a taxa de sucesso das empresas que ajudamos a criar se aproxime o mais possível dos 100%”.

Perfil empreendedor, capacidade para gerir um negócio e sentido de responsabilidade, são alguns dos requisitos que compõe o perfil preferencial dos candidatos a este programa. Santos Luiz reconhece que “nem sempre é fácil encontrar este perfil na população abrangida pela Santa Casa, até porque são muitas as situações de vida desestruturadas e a ausência de hábitos de trabalho ou dificuldades de relacionamento”. Mas o responsável clarifica a questão e adianta que “quem não tem o perfil adequado para o programa é encaminhado para outras situações. Tentamos ajudar a encontrar emprego ou investir na formação”.

Cabeleireiros, floristas, peixeiras ou pequenas reparações domésticas são as áreas que, segundo Santos Luiz, têm recolhido mais investimento e apoio pelo Departamento de Empreendedorismo Social da Santa Casa e também uma maior taxa de sucesso. O arranque do projeto depende de que o candidato apresente um plano de negócios aceitável, sendo que pode nesta área contar com a ajuda da instituição ao nível da formação e aconselhamento específicos.

O microcrédito aplicado nestes projetos resulta de uma parceria com o Montepio que financia negócios até 15 mil euros, sendo que como esclarece o responsável, “em média estes projetos representam um investimento inicial de cerca de 9300 euros”. Para António Santos Luiz não há dúvidas de que “são negócios que representam uma dimensão financeira reduzida mas com um impacto social extremamente importante, a de recuperar e inserir pessoas com dificuldades”.

O milagre da micro-ajuda

O conceito que mudou a vida a milhares de pobres em todo o mundo, dando-lhes oportunidades de subsistência que nunca imaginaram ter, surgiu da mente de Muhammad Yunus, o professor de economia que em 2006 alcançou o Nobel da Paz e que foi carinhosamente apelidado de Banqueiro dos Pobres, batizou o seu conceito de Microcrédito.

Yunus acreditou e demonstrou que emprestando pequenas quantias aos pobres para que estes as aplicassem na criação de pequenos negócios rentáveis, conseguiria quebrar o ciclo de pobreza, revitalizar economias locais e integrar socialmente os grupos mais carenciados da população.

A tua teoria foi replicada à escala mundial e por cá somam-se os exemplos. Em dez anos, Portugal assistiu à criação de 1368 empresas com o apoio do microcrédito. Cerca de 40% destes projetos surgiram desde 2008, em pleno contexto de crise. Segundo dados da Associação nacional de Direito ao Crédito (ANDC), a grande maioria (73%) dos negócios criados com recurso ao microcrédito entre 1999 e 2010 ainda se mantém, tendo resistido ao mais conturbado período de crise. Na sua essência são pequenos negócios ligados a restauração, comércio e serviços que necessitaram de um investimento inicial não superior a 10 mil euros para o seu arranque.

Para recorrer ao microcrédito é necessário que o promotor da ideia esteja em situação de desemprego ou não tenha emprego estável e não possua condições de acesso a crédito bancário normal.

O poder do networking


O verão pode ser uma boa altura para investir no networking e estabelecer ou retomar contactos de peso que o podem ajudar a encontrar emprego. O líder da Transitar, Yves Turquin ajuda-o a conduzir esta tarefa.

Estar de férias não significa que arrume a um canto a sua estratégia de carreira. Deve aproveitar esta altura do ano para alinhar ideias e estratégias, definir onde quer chegar e que caminhos tem para o fazer. Aproveite o verão para investir no seu networking . Pode ser-lhe muito útil na reentré de setembro que já se avizinha.
Yves Turquin, managing director da empresa especialista em processos de transição de carreira, Transitar, não tem dúvidas de que parar é morrer e para o especialista “o verão não tem de significar uma paragem na procura de emprego”. Diz o líder da Transitar que esta pode ser, na verdade, “a melhor das alturas para de forma descontraída, mas profissional, travar conhecimentos, retomar antigos contactos e fomentar uma network que poderá ser bastante útil para encontrar um novo emprego”.

Se está no desemprego, lembre-se que o trabalho diminuiu nesta altura do ano, mas não pára. As empresas continuam a funcionar e muitos profissionais mantêm-se em atividade tendo até, fruto da redução de trabalho gerada pelas férias, mais tempo disponível para travar contactos, analisar currículos e selecionar pessoal. Tire pois partido desta realidade, procurando alterar a sua situação laboral.

“Aumentar e impulsionar a rede de contactos profissionais e pessoais é o maior potencial do verão”, argumenta Yves Turquin. O especialista em gestão de carreira enfatiza que “nas férias reveem-se amigos, passa-se mais tempo com a família e com ex-colegas. Uma ótima forma de atualizar os contactos e dar a conhecer as suas competências”. Até porque, como faz questão de frisar, “as empresas não deixam de ter necessidade de pessoal por ser verão. Continuam a existir processos de recrutamento durante este período do ano”.

E pode até parecer-lhe excessivamente arrojado, mas o especialista e líder da Transitar aconselha mesmo: “faça networking de fato de banho”. Yves Turquin avança uma série de conselhos úteis para tirar partido do verão na procura de emprego e fazer um bom networking , entre eles a necessidade de “assumir uma nova postura e aproveitar os contactos informais e descontraídos proporcionados por esta altura do ano, apostando em transmitir a sua mensagem, ainda que não esteja de gravata e com os cartões de visita consigo”. É que os contactos profissionais também são feitos nas férias, na praia e no campo e por vezes, refere, “encontramos pessoas que nunca pensámos encontrar tão facilmente em locais inesperados (praia, cinema, bares). É fundamental não desperdiçar oportunidades, só porque é verão”.

Igualmente importante é identificar oportunidades e definir objetivos. “Estabeleça que contactos quer efetuar, que empresas quer conhecer e que cartas vai enviar”, aconselha Yves Turquin. A partir daqui peça todo o tipo de informações e não se iniba. “Não peça emprego diretamente a network profissional, mas tente saber mais sobre a empresa em questão, peça conselhos sobre a melhor estratégia de abordagem ou a melhor forma de conseguir emprego, a realidade do mercado de trabalho nessa área, as empresas e o recrutamento”. O especialista adianta que embora muita gente negligencie esta fase, “estas informações são vitais para perceber a melhor forma de abordar uma organização, um responsável ou um departamento”.

Deve também saber ouvir. Tão ou mais importante do que falar de si ou dar-se a conhecer é saber ouvir. Faça todas as perguntas que entender para ver esclarecidas as suas dúvidas e retenha bem as respostas que obtiver. Caso entenda necessário, tome notas sobre as pessoas com quem falou. “Aponte os cartões-de-visita, informações que considere importantes, assuntos abordados, interesses comuns e tudo o que considerar importante para contactos futuros”, refere Yves Turquin.

E depois de dar estes passos e cimentar o seu networking, não esqueça que não pode deixar este esforço cair no esquecimento. Retome estes contactos com regularidade e defina uma estratégia de posicionamento ativo no mercado de trabalho.

in Expresso

Novos Desígnios Tecnológicos para Portugal por @czorrinho #TEDxEdges

Gabilondo entrevista o sociólogo Manuel Castells

Gestores da Pioneer transformaram fecho da empresa numa oportunidade de negócio

O encerramento da fábrica da Pioneer em Portugal era um facto consumado, mas três gestores, um deles director-geral, conseguiram ver um pouco mais além.

Compraram o equipamento da subsidiária e criaram uma nova empresa, que vai manter-se no ramo da electrónica e contratar os antigos trabalhadores. Querem deixar para trás a pesada herança da multinacional japonesa, que deixou 127 portugueses no desemprego, sem esquecer os erros do passado.

António Freitas, era, desde 1995, o responsável máximo da Pioneer em território nacional. Em Maio do ano passado, face à inviabilidade financeira da empresa, viu-se a braços com um cenário de despedimento colectivo, no qual também estava incluído. Nesse mesmo mês, juntou-se a quatro colegas para propor um management buy out [compra de capital por parte da gestão] ao grupo, antes que o fecho da fábrica se concretizasse.

Queriam ficar com o que sobrara de um projecto que a instabilidade económica tinha condenado. Mas, para isso, era necessário que a multinacional garantisse um número mínimo de encomendas à nova empresa, por um período de cinco anos. A resposta chegou em Junho. Foi negativa. "O nosso projecto previa a manutenção de 70 a 120 postos de trabalho, mas era preciso garantir uma quantidade mínima de vendas para que fosse viável", conta.

Os gestores desistiram. E, em Junho, comunicaram oficialmente aos trabalhadores o encerramento. Daí em diante, falar-se-ia apenas de falência e de desemprego nos corredores da fábrica no Seixal. Estavam em causa 127 postos de trabalho. No entanto, na cabeça de António Freitas, a ideia de aproveitar o legado da Pioneer ainda não tinha esmorecido. Por isso, falhado o management buy out (MBO), fez uma nova tentativa.

Uma questão de espaço

No final do Verão, juntou-se a outros dois gestores: Vítor Gomes, ex-director de produção, e Hélder Guerreiro, chefe de serviços de sistemas de informação. Nessa altura, já a empresa entrara na fase da venda de activos. "Por que não adquirir os equipamentos e criar uma empresa?", pensaram. E assim foi. O material estava a ser alienado a um preço atractivo e foi fácil cobrir as propostas dos licitadores. "Já tínhamos o conhecimento e ficámos com a tecnologia", diz o gestor de 52 anos.

Adquirido o equipamento, faltava criar a empresa. Mas, antes disso, era preciso lidar com outro dilema: o despedimento colectivo. Foi um processo moroso, até porque a Pioneer contratou uma empresa de outplacement [serviços de transição profissional], a Transitar, para apoiar os trabalhadores. Foi nessa tarefa que António Freitas esteve concentrado até ao final do ano.

"Em Janeiro deste ano, recomeçámos a trabalhar no projecto e, a 31 de Março, constituímos a empresa", afirma. Agora, só falta encontrar as instalações ideais, para compra ou arrendamento. Passo que esperam dar "até ao final de 2010". A razão por que esta questão pode demorar meses a ser resolvida tem muito a ver com a saída da multinacional de Portugal. É que uma das causas foi as despesas que a fábrica significava.

"O edifício foi projectado para ser rentável com 700 a 750 trabalhadores, com mais volume de produção. À medida que as encomendas foram diminuindo, isto tornou-se num problema", conta António Freitas. É por isso que a questão do espaço é tão importante. "Assim que encontrarmos o local certo, avançamos", garante. Se optarem pela compra, o projecto deverá significar um investimento de 1,5 milhões de euros no total.

"Aprender até morrer"

A componente física não é, no entanto, o único ensinamento que retiraram da experiência ao serviço da Pioneer. Sabem que, ao contrário do que a multinacional japonesa fazia, têm de trabalhar mais na diversificação dos clientes. A subsidiária portuguesa era, desde 2000, a única do grupo que produzia para terceiros, mas, ainda assim, esta área só pesava cinco por cento na facturação.

E depois há azares que não se podem prever. Como o que aconteceu à Pioneer, quando, depois de gastar um milhão de euros numa linha de produção que iria servir, a partir de Portugal, produtores de automóveis japoneses com projectos na Europa, os clientes desistiram e as expectativas de receitas da multinacional japonesa, que, no final de 2008, apresentava prejuízos de 3,4 milhões de euros, caíram por terra. "Estamos sempre expostos a estas surpresas. É aprender até morrer", sublinha António Freitas.

A empresa que criou, em conjunto com dois antigos colegas, vai continuar focada na produção de equipamentos de electrónica, mas com uma visão mais abrangente. Podem continuar a fabricar auto-rádios, mas não será o único produto. "Ainda estamos a estudar o mercado. Queremos focar-nos em equipamentos com garantia de qualidade e fiabilidade. Pode ser para o sector automóvel ou para o médico, por exemplo", avança. A ideia é explorar a Europa, procurando clientes "na Alemanha, França, Espanha, Reino Unido e Países Baixos".

Quanto a expectativas de facturação, António Freitas frisa que este negócio "não é para pessoas que querem lucro no curto prazo". Esperam atingir o break-even [fase em que as receitas pagam o investimento realizado] "não ao fim de cinco, mas ao fim de dez anos". Mas nem por isso pensam em desistir. Com eles, deverão levar ex-trabalhadores da Pioneer. "Entre 16 e 20 no início e, ao final de três anos, cerca de 60", assegura.

Enquanto estas ambições não se concretizam e as instalações ideais não aparecem, o gestor português continua ligado à multinacional japonesa que o contratou em 1995 para criar um projecto de raiz em Portugal. É que ainda falta vender a fábrica de auto-rádios no Seixal.

in Público

Cidades Inteligentes

1. Quando, há um par de meses li Quente, Plano e Cheio (Thomas L. Friedman, Actual Editora) e, da pág 230 à pag. 242, li “como é que seria realmente viver numa revolução verde no ano 20 E.C.E – Era do Clima e da Energia”, pensei estar a ler a nossa nova utopia.

Enganei-me. Aquilo a que Friedman chama a “Internet da Energia” está aí, sob o nome menos futurista de “Smart Grids” ou “Redes Inteligentes”.

O Governo Australiano (por exemplo) lançou, em Outubro de 2009, a iniciativa “Smart Grids, Smart Cities” (Redes Inteligentes, Cidades Inteligentes, Uma Nova Direcção para Uma Nova Era da Energia) com quatro grandes objectivos: redução de custos e da conta dos consumidores, acesso a uma rede e a energia mais fiável e de qualidade, habituação e participação dos consumidores numa redução efectiva de emissões de carbono e incremento da eficiência energética e das energias renováveis, “empowerment” (capacidade de decisão) dos consumidores e mais transparência nas suas escolhas.

(Em Évora a EDP instalou o chamado “contador inteligente”, num projecto piloto…)


2. “Smart Cities” está hoje a entrar no vocabulário político, nas políticas europeias, nacionais e das cidades.

Cidade Inteligente pode ser aquilo que se é, com graus e em patamares diferentes. Mas mais importante: Cidade Inteligente é aquilo que se deve querer ser. Este conceito assenta em seis eixos centrais:

- “Economia Inteligente”- (competitividade): espírito inovador, espírito empresarial e empreendedor, capacidade de transformação

- “Pessoas Inteligentes” : qualificação, disposição para aprendizagem ao longo da vida, pluralismo cultural, social, étnico, criatividade, cosmopolitismo (“open mind”), participação na vida pública.

- “Governância Inteligente”: transparência e participação nos processos de decisão, existência de estratégias públicas, …

- “Mobilidade inteligente”: acessibilidades locais e internacionais, transportes públicos seguros, sustentáveis e inovadores

- “Ambiente Inteligente”: atractividade das condições naturais e protecção ambiental, gestão ambiental sustentável, …

- “Vivência Inteligente”: equipamentos culturais, equipamentos educativos, condições de saúde, segurança individual, coesão social…


3. O nosso distrito é um distrito assente numa rede de cidades bem interessantes e, em conjunto, de grande potencial.

Parcerias para Redes Inteligentes, Cidades Inteligentes, precisam-se.

Para uma nova geração de políticas de cidade.

in O Ribatejo, Nelson Carvalho

Novos Povoadores à conquista do Interior



"Sou a prova viva de que com Internet podemos trabalhar em qualquer lado"

Frederico Lucas tem 37 anos, três filhos e uma ambição: promover o êxodo urbano, trazer consumidores para os territórios de baixa densidade.
Com o projecto Novos Povoadores, de que é co-autor, quer também demonstrar que se pode ganhar dinheiro a partir de qualquer sítio. Ele está a tentar fazê-lo, a partir de Trancoso. E há muitas famílias interessadas em seguir-lhe os passos.
Por Luísa Pinto

Quando cheguei, estava deslumbrado. Vim para Trancoso em 2004, atrás da minha ex-mulher. Depois de termos vivido em Telheiras, mudámo-nos para Azeitão. Foi lá que nasceu o nosso terceiro filho, em 2002. Foi em Azeitão que fiquei quando nos separámos, com os dois mais velhos, de três e cinco anos, na altura. Eu trabalhava como consultor na área da comunicação. Demorava uma hora a chegar a Lisboa, e outro tanto a regressar, gastava dez euros por dia, já sem contar com combustível, que nem me lembro a quanto estava. Quando me mudei, os meus custos fixos passaram de 1750 euros por mês, entre casa e infantários e ATL dos filhos, para 390 euros.

Poder almoçar e jantar fora os dias que me apetecesse era uma coisa que havia saído há muito das minhas possibilidades.
Aqui, passaram-me a sobrar semanas. Deslumbrei-me. Também com a qualidade de vida. Uma pessoa pode entrar às nove e sair às cinco, ganhar três vezes mais do que paga de renda e infantários (que aqui são subsidiados por toda a gente, entre câmara, Misericórdia e Segurança Social). É uma tranquilidade. O único dia em que há trânsito, isto é, dois carros num semáforo, é à sexta-feira, em que há mercado semanal.

Lembro-me que nos primeiros dias, depois de chegar, deixavam-me um saquinho de legumes à porta. Fazem muito isso. Sabem que alguém chega, não tem terras cá, e lá nos põem à porta batatas, cenouras… é uma coisa muito agradável. Mas há o outro lado, o do controlo social. Dá-me um certo gozo dizer que se o meu filho sair da escola, e se eu perguntar a duas ou três pessoas, alguém saberá onde ele está. Mas isto também significa uma perda de privacidade e de anonimato a que estávamos habituados nas cidades, onde nem se sabe o nome do vizinho de baixo.
Uma vez cheguei de Lisboa, bati à porta da minha ex-mulher, e foi a do lado que se abriu, e foi a vizinha quem me disse: ‘Os seus filhos foram ao cinema.’ Temos de aprender a viver com isto. Eu não conhecia a senhora. Mas ela sabia que os meus filhos estavam no cinema. Aliás, aqui há dias, voltei ao cinema com eles em Lisboa. Foi um susto. Paguei 38 euros. Em Trancoso pagamos pouco mais de sete.

Foi aqui, em Trancoso, que conheci a Ana Linhares e o Alexandre Ferraz e que, a três, desenhámos o projecto dos Novos Povoadores. O Alexandre, que é do Pombal, tirou um curso de turismo, era recepcionista de um hotel, e veio para cá em 2002 porque foi aqui que encontrou um emprego qualificado.
A Ana é de Barcelos e veio atrás do Alexandre, e atrás de emprego.

Somos o Santo António
Foi aqui que nos cruzámos todos, e isto já é um sinal das dificuldades que pode haver na integração numa comunidade rural. Não é por acaso que três pessoas que são de fora é que se juntam. Porque há dificuldade. Se tivéssemos sido acolhidos de outra maneira, este projecto não teria sido concebido assim e até podia ter sido feito com pessoas de cá. projecto Novos Povoadores surgiu de uma conversa com o Alexandre. Começamos a partilhar as dificuldades do desenvolvimento nestes territórios. Se estes territórios têm qualidade de vida para oferecer, por que é que as pessoas não os habitam? Chegamos à questão simples: porque não têm emprego.
Mas, então, eu também não tenho emprego em Trancoso e é aqui que eu moro. Sou assim uma ave tão rara? Há mais pessoas que podem fazer isto.

Eu posso trabalhar a partir de qualquer lado – aliás, agora estou a pensar mudar-me para Marvão –, a única coisa que preciso é ter acesso à Internet. É a economia DNS (Domain Name Server). Com ela, as pessoas já podem vir para estes territórios de baixa densidade, que precisam desesperadamente de consumidores, mas que não têm empregos para oferecer. Com a economia DNS, já não é o território que gera o seu posto de trabalho. Os postos de trabalho ganharam independência geográfica, o meu contabilista pode estar em Vila Real, onde quiser, só tem de receber os meus papéis.
Eu vou contratar o contabilista que me for mais barato, e o que conseguir ser mais competitivo.
Eu fiz o mesmo. A minha tabela de honorários desceu 30 por cento, desde que me mudei para Trancoso, onde continuo a trabalhar como consultor de várias empresas. O trabalho para uma dessas empresas obriga-me a ir uma vez por semana a Lisboa.

Não sou formado em economia do desenvolvimento, nem em gestão territorial. Mas especializei-me a devorar estes temas, e a frequentar tudo o que é congressos e seminários. Acho que a economia acabou com os postos de trabalho, para haver cada vez mais empreendedores. Cada vez mais ganhamos em função das peças que fazemos e cada vez menos ganhamos um ordenado de uma empresa, mas sim de um projecto específico. Isso acontece comigo há já 17 anos. Foi o que sempre fiz.

Tirei um curso técnico de realização, que nunca utilizei, e sou a prova viva de que se pensarmos em algo com Internet podemos trabalhar em qualquer lado. E habitar estes territórios que nos dão qualidade de vida.
Sabemos que há pessoas que procuram estes sítios. Sabemos que há municípios que precisam de quadros qualificados, de consumidores. Nós somos o Santo António. Casamos território com pessoas. Estivemos três anos a discutir o projecto, a desenhá-lo. Não sabíamos como fazer deste modelo um negócio. Só o conseguimos em Dezembro de 2008, quatro meses antes de apresentar o projecto.

Ganhar dinheiro
Quem paga o nosso serviço são as câmaras, por cada cinco famílias que se mudam para o território, e que lá ficam pelo menos um ano.
Mas nós não cobramos um cêntimo às famílias, e não lhes pagamos, sequer, um café. As despesas e as poupanças serão todas por sua conta. Nós só as ajudamos a maturar este processo, esta ideia. Para que elas percebam que estes territórios têm muitas características boas, e outras menos boas.
Não andámos à procura de ninguém. As famílias que se querem mudar é que nos procuram no site [http://www.novospovoadores.pt].
E trabalhamos com municípios aderentes, com aqueles que têm verdadeiramente um projecto, um objectivo.

(...)

Nós não somos uma agência imobiliária, mas ajudamos a identificá-las nos territórios que as famílias querem ocupar. Não somos agência de emprego, mas ajudamos a criar empreendedores.
E não procuramos só projectos de turismo e de agricultura biológica.
Os territórios de baixa densidade são sistematicamente vistos como oportunidades sempre coladas ao turismo. O que sabemos é que o turismo cresce e representa normalmente à volta de 20 por cento da actividade económica do país. E não cresce mais porque as pessoas procuram territórios autênticos, não vão para os sítios onde está tudo feito para o turista.
Trancoso tem 16 mil turistas por ano. Se duplicarmos o número de turistas, para 32 mil, e não há exemplos destes, ganhamos três dias de autonomia anual de orçamento municipal. Temos de multiplicar por cem o turismo para deixarmos de depender do orçamento [público]. Não é por aí que vamos conseguir a independência que se está a pedir aos territórios.

Eu acho que o interior sofre de excesso de dinheiro. Os recursos humanos desses territórios são indiscriminadamente integrados nos municípios, e, por falta de trabalho, são “anestesiados” para nada produzirem. São recursos com os quais o território deixa de poder contar para qualquer estratégia para a sua competitividade. E os outros, os empreendedores locais, são contratados pelos municípios ao preço que lhes é confortável para manterem o seu quadro de pessoal.
Deste modo não lhes resta qualquer motivação para competirem, ainda menos no mercado global. Receio que em muitos casos esta falta de visão estratégica não seja obra do acaso. E nesses locais não haverá projecto Novos Povoadores, com toda a certeza.

in Público, Luísa Pinto

O Plano Tecnológico e as Novas Oportunidades para o Sector por @rgrilo

Já Vencemos!(*)



Foi em 25 de Setembro de 2005 que inaugurei o projecto "Inovação & Inclusão".

Nesse periodo a gestão autárquica nos territórios de baixa densidade era marcada pela perspectiva de angariação de industrias ou pela dinamização do turismo.

Defendia nessa data algo que poucos compreendiam: O futuro do "interior" está na captação de massa crítica, gente capaz de induzir dinamismo económico e social

Este era um objectivo conhecido e compreendido para as cidades universitárias mas muito mal aceite para os territórios de baixa densidade.

Nas apertadas curvas da vida conheci Alexandre Ferraz. Para além de um ser admirável, preocupava-se com dinamização de pequenos negócios num território multimunicipal da Beira Interior.

Um paper de António Covas com o título “O espaço rural: de espaço-produtor a espaço-produzido” foi o nosso rastilho para compreendermos que não estávamos sos nessa vontade de repensar o "interior".

A certeza de que se tratava de um desígnio veio com o então recem eleito Presidente da República e o seu Roteiro para a Inclusão.
Chegou-nos também daí uma mensagem de estímulo assinada por Nunes Liberato.

E hoje chegámos a um ponto admirável: É consensual que o futuro do interior passa pela concorrência directa aos territórios metropolitanos. Passou de território paraplégico e envelhecido a espaço de futuro. Está entre as melhores ofertas territoriais a nível europeu para actividades suportadas na economia digital.

Esta manhã, enquanto tomava café, Manuel Frexes confirmava em directo na RTP que o Fundão dispunha hoje de condições para acolher população metropolitana.
Pode parecer banal. Mas a frescura deste discurso contrasta com tudo o que se dizia até há poucos meses atrás.

Creio que a mensagem do projecto Novos Povoadores já passou!

Obrigado! Conseguimos. COLECTIVAMENTE!

(*) Nas longas noites de violência que sucederam o referendo timorense, alguém explicava na TSF que para eles o simples facto de resistirem já era uma vitória!
Ocorre o mesmo com o "interior". Tivemos a capacidade de resistir à imagem debilitada que lhes quiseram atribuir. E hoje, esse território é a imagem do futuro, deixando para os engarrafamentos de trânsito e para os minusculos escritórios o retrato da sociedade "old fashion".

Quem tem telhados verdes... poupa na energia



por ANA BELA FERREIRA
DN - 31-05-2009

A Suécia é um dos países mais ecológicos do mundo. A sua consciência verde começou a ser trabalhada há décadas, e hoje em dia todos separam o lixo e trocam o carro pela bicicleta ou pelos transportes públicos sem reclamar. Aqui existem ainda bairros ecológicos e sustentáveis com jardins nos telhados, que servem para manter as casas quentes.

E se pudesse escolher, desenhar e mudar o bairro onde vive ao seu gosto? Os habitantes da zona problemática de Augustenborg, em Malmö, Suécia, puderam fazê-lo há 11 anos e agora vivem num dos bairros mais ecológicos do mundo. Aqui o que conta são os pormenores baseados nos desejos dos habitantes.

As casas têm jardins nos telhados, 14 centros de reciclagem, uma escola e um lar para idosos que fabricam a energia que gastam e parques infantis desenhados pelas crianças. A vontade dos mais novos foi ouvida até para a criação de um "hotel para coelhos", um local onde estão mais de cem coelhos que pertencem às crianças de Augustenborg que não podem ter animais de estimação em casa.

Os três mil habitantes desta área são até mais saudáveis do que os restantes habitantes de Malmö, segundo a convicção de Louise Lundberg, da Associação Telhados Verdes Escandinavos. É que além dos jardins em frente das casas, este bairro tem jardins no telhado.

Uma inovação que permite manter o interior quente e que ajuda a absorver grande parte da água da chuva - um problema da zona até à reconstrução. Estes telhados são ainda "uma forma de proteger alguns ecossistemas que as cidades destruíram", defende Louise Lundberg, enquanto mostra os telhados verdes que constrói.

O único senão desta aplicação amiga do ambiente é o preço. A instalação custa 500 a 900 euros por metro quadrado. De resto, este será provavelmente o único dinheiro gasto, pois os telhados-jardins não precisam de manutenção. O solo apenas precisa de ser fertilizado de dois em dois anos e as plantas escolhidas não deixam crescer ervas daninhas e mantêm-se pequenas.

Além dos telhados, todos os edifícios têm outras características que os tornam sustentáveis do ponto de vista ambiental. Para lá dos tradicionais painéis solares para aquecimento e painéis fotovoltaicos para gerar electricidade, as casas recebem energia produzida pelo tratamento do lixo gerado no bairro, que também produz biogás, que alimenta as casas e os transportes públicos.

Um dos exemplos do funcionamento do sistema é a escola de Augustenborg, onde estudam 80 crianças. O espaço tem painéis solares, tintas não poluentes, telhados verdes, sistema inteligente de ventilação e iluminação (que se accionam só quando alguém está na sala).

Esta escola sem muros nem vedações, rodeada por jardins cuidados, e onde os alunos têm aulas no exterior, está construída por módulos, podendo assim ser deslocada de forma separada. "Se a escola for grande de mais para o número de alunos e outra escola precisar de mais espaço, pode deslocar-se um módulo daqui", explica a técnica dos telhados verdes.

Mas se este espaço onde as crianças circulam descontraidamente de jardim em jardim resultou de uma reconstrução financiada pela União Europeia e pela empresa de construção, outros na Suécia foram construídos de raiz a pensar no meio ambiente.
Malmö tem um desses bairros, mas o mais famoso é o Hammerby Sjöstad, em Estocolmo. Esta zona da cidade começou a ser planeada em 1990 para ser a aldeia olímpica de 2004, com a ideia de fazer os Jogos Olímpicos mais limpos de sempre, que acabaram por se realizar em Atenas.

"O objectivo desta construção é que 50% da energia consumida pelos habitantes seja produzida por eles", refere Melina Karlsson, do centro de informação do bairro.
Num cubo de vidro com vista para a zona, a técnica faz questão de sublinhar que as rendas não ultrapassam os 600 euros por mês, que as casas pertencem ao município e que usam tecnologia semelhante à do bairro de Augustenborg.

Enquanto isso, o pouco calor que se faz sentir leva dezenas de crianças a aproveitar a água das fontes instaladas nas ruas de Hammerby. Provavelmente ainda não sabem, mas estas crianças estão a contribuir para um planeta mais verde e menos poluente

Munícipios do interior perdem 10% de populaçãopor ano

por Ana Tomás Ribeiro



A desertificação do interior do país continua a crescer e boa parte destas autarquias perdem anualmente entre 10% a 15% da população, disse ao DN o presidente da Associação Nacional dos Municípios. O projecto Novos Povoadores, que quer levar para lá quem vive nas grandes cidades, já contava ontem com mais de cem famílias candidatas à mudança.

A desertificação do interior do país continua a crescer. "Uma parte dos municípios do interior já está a perder anualmente entre 10% a 15 da sua população " ,disse ontem ao DN o presidente da Associação Nacional dos Municípios, Fernando Ruas, baseando os seus cálculos em dados dos censos populacionais. Uma percentagem que virá a agravar-se se nada se fizer para travar o problema.

O autarca diz que não existem políticas nacionais para combater o problema, que não se resolve apenas com medidas locais. Pelo contrário, diz, há até políticas nacionais que têm "incentivado ou acelerado o despovoamento de algumas regiões, como é o caso do encerramento de serviços públicos" , como as maternidades. As grandes obras públicas que o Governo quer levar por diante são para o representante dos autarcas, projectos importantes para o país em termos de combate ao desemprego. "Mas uma parte da mão-de-obra para as executar também sairá do interior e isso poderá ser mais um factor a contribuir para a desertificação".

A prioridade da associação é travar a saída de mais pessoas do interior e fixar as famílias que lá existem. Com esse objectivo aquela estrutura associativa apresentou recentemente ao Governo um programa de combate ao problema que exige apoios estatais da ordem dos 730 milhões de euros com os quais "os munícipes podiam alavancar quer o emprego quer as economias locais", referiu Fernando Ruas. Aguardam agora pela resposta governamental.

Quanto a atrair pessoas dos grandes centros urbanos para essas regiões, um objectivo do projecto Novos Povoa- dores, cujos primeiro dados foram divulgados ontem pelo DN, considera que é importante, mas não prioritário.

Seja como for o projecto criado por três amigos - Frederico Lucas, Ana Linhares e Alexandre Ferraz (ver caixa perfis) - e que conta, na sua implementação com a parceria do Intec, Instituto de Tecnologia Comportamental, e coma experiência de Patrícia Palma e Miguel Lopes (ver caixa)- já contava ontem com mais de cem famílias candidatas a deixar os grandes centros urbanos para irem viver para uma cidade de média dimensão.

A primeira autarquia a acolher alguns destes novos povoadores, que deverão mudar-se no início do próximo ano lectivo, será Abrantes. A Câmara local e a Associação Tagus Vallei, a promotora do Tecnopólo Vale do Tejo, deverão assinar o protocolo com os Novos Povoadores ainda em Abril , disse ao DN Céu Albuquerque, vereadora do ambiente e desenvolvimento económico daquela autarquia (ver reportagem no texto ao lado). Numa primeira fase vão acolher 20 famílias. Mas há já outros municípios interessados na ideia.

in DN

33 famílias serão Novos Povoadores do interior em Setembro

por Ana Tomás Ribeiro



Há 277 municípios a precisar de recursos humanos. E famílias de grandes cidades a quererem mudar de vida. O projecto Novos Povoadores é o ponto de encontro.

Há 277 municípios a precisar de recursos humanos qualificados e de gente empreendedora capaz de criar projectos geradores de emprego, com efeito multiplicador, e de competir a nível internacional. E há certamente famílias nos grande centros urbanos com vontade de mudarem para a província, para desenvolver um projecto próprio tendo mais qualidade de vida.

Foi nisto que Frederico Lucas pensou quando decidiu desafiar dois amigos, a Ana Linhares, socióloga, e o Alexandre Ferraz, técnico de uma associação de desenvolvimento local em Trancoso, para criarem conjuntamente o projecto Novos Povoadores (divulgado pela Visão há duas semanas), que tem como objectivo encontrar, nos grandes centros urbanos, candidatos à altura das necessidades regionais. Depois era preciso encontrar um parceiro que os ajudasse a pôr em prática o desafio. Encontraram o Intec - Instituto de Tecnologia Comportamental. Assim, o projecto só começou a ser posto em prática em Dezembro.

De então para cá já se candidataram 25 famílias. "Mas daqui por um mês já devemos ter 100 candidaturas. Uma estimativa que faço de acordo com o número de contactos que temos recebido", explica Frederico Lucas.

Para garantir o sucesso da família na sua nova vida, um dos membros do casal deverá ter um emprego assegurado, quer por via da transferência da sua actual entidade empregadora ou de uma entidade da região que o venha previamente a contratar. O outro membro da família terá de desenvolver um projecto empreendedor, para o qual conta, desde logo, com apoios de várias entidades, incluindo do próprio município.

Contudo, das cem famílias que deverão ser candidatas dentro de um mês, só um terço concretizará a mudança. Ou seja, 33.

De acordo com o cálculos de um dos mentores do projecto, "a maioria vai desistir ou prorrogar a decisão a meio do processo de aproximação à nova realidade. Um processo que pretendemos fazer de uma forma lenta, e com várias etapas, para que os candidatos se apercebam de todos os prós e contra" (ver caixa com passo a passo). Os que vão desistir, diz Frederico Lucas, fazem-no essencialmente por questões culturais. As que se mantêm mudam-se no começo do próximo ano lectivo, em Setembro, para uma cidade ligada por auto-estrada. Porque os mentores do projecto Novos Povoadores querem iniciar a experiência piloto num centro urbano de fácil acesso. Em cima da mesa estão várias hipóteses: Castelo Branco, Évora, Abrantes. Uma ilha nos Açores também está a ser estudada.

Entre as 15 famílias que já estão em processo de avaliação, há casais sem filhos e famílias numeroas (com 5 pessoas ), muitos profissionais da comunicação, marketing, engenheiros e projectistas, bem como emigrantes que regressaram ao país e querem investir em projectos de turismo rural.

in DN

As novas indústrias do próximo futuro



Existe uma grande convicção no sentido do surgimento de um novo paradigma de desenvolvimento no período que se seguirá à actual crise económica e financeira global. A grande interrogação que se coloca aos decisores empresarias reside na determinação dos sectores que vão crescer, dos que se vão

Existe uma grande convicção no sentido do surgimento de um novo paradigma de desenvolvimento no período que se seguirá à actual crise económica e financeira global.

A grande interrogação que se coloca aos decisores empresarias reside na determinação dos sectores que vão crescer, dos que se vão reduzir e dos novos sectores de actividade económica que surgirão ou se afirmarão de uma forma significativa.

Correndo os riscos associados às previsões, particularmente altos em períodos de elevada turbulência e de transição, considero útil desenvolver algumas reflexões em torno das indústrias potenciais do futuro próximo, que permita a discussão e o estabelecimento de caminhos para o futuro das empresas portuguesas.

Neste exercício prospectivo, as actividades empresariais que se evidenciarão no futuro próximo, serão, em minha opinião, agrupadas em torno das seguintes áreas:



• Indústrias da sustentabilidade que integrarão os "clusters" ligadas ligados às novas formas de conservação e produção de energia e de protecção do ambiente, onde se incluirão as unidades ligadas à energia eólica, células fotovoltaicas, carros eléctricos, novos materiais compósitos, componentes electrónicos….

• Indústrias da saúde e bem-estar, integrando as unidades da área da bioquímica e farmacêutica, equipamentos hospitalares, materiais recicláveis, novos sistemas de tratamento e prevenção de doenças, clínicas especializadas…

• Indústrias do entretenimento e da qualidade de vida, integrando as áreas do turismo, desporto, cultura, dos conteúdos multimédia…

• Indústrias da produtividade e da eficiência, integrando as tecnologias de informação e comunicação, a indústria informática, os novos sistemas de criação, transporte e distribuição de informação…

• Indústrias da geografia, integrando a "customização" das diferentes tecnologias para diferentes geografias, com especial relevo para as tecnologias tropicais que permitam o desenvolvimento da agricultura, pecuária, medicina… dos países de África e de outras regiões menos desenvolvidas.

Assistiremos, simultaneamente, ao declínio ou redução da actividade de um conjunto de sectores, com graus elevados de ineficiência produtiva, associados a um modelo de consumo intensivo, tais como a indústria automóvel, imobiliária e electrónica de consumo tradicional, assim como ao decréscimo de rendibilidade de sectores que apostaram numa diferenciação artificial não suportada no "value for money" dos seus produtos. Nestes sectores assistiremos a uma alteração qualitativa significativa do portefólio de produtos que o mercado virá a aceitar.

Os sinais que a economia americana emitirá nos próximos meses vão ser fundamentais para testar e corrigir estas projecções, e para a construção de opções sólidas para o futuro da actividade produtiva portuguesa. Neste aspecto, especial atenção deve ser dada aos programas de investigação aplicada das universidades americanas de referência, já que os mesmos ditarão as grandes linhas de desenvolvimento tecnológico e empresarial para o próximo futuro.

Em relação aos sectores tradicionais de consumo das famílias - têxtil, vestuário, mobiliário, decoração, etc., verificar-se-á uma maior sensibilidade ao preço pelo que serão essenciais os esforços de aumento de produtividade e redução de custos. As famílias tenderão a afectar uma parte menor do seu rendimento disponível a este tipo de produtos, concentrando o rendimento remanescente nas novas áreas atrás referidas ligadas à saúde e qualidade de vida, aos quais exigirão um elevado índice do "value for money".

Os próximos tempos vão ser tempos de reflexão e estudo intensivo. Não são, tradicionalmente, as áreas preferenciais de aplicação de recursos dos nossos agentes empresariais. Mas terão de passar a ser!

in JN, Luís Todo Bom

Gerir a Inovação para inovar a Gestão

Novas estratégias à volta de temas centrais para o futuro do País e da Europa estão em cima da mesa.
Francisco Jaime Quesado


Novas estratégias à volta de temas centrais para o futuro do País e da Europa estão em cima da mesa. Pensar a Inovação e Criatividade como factores centrais duma nova sustentabilidade em que a participação dos cidadãos se assume numa lógica colaborativa em rede justifica uma atenção muito especial aos novos factores estratégicos de competitividade que devem nortear qualquer actuação para o futuro. Não se pode conceber uma lógica de mudança na sociedade portuguesa se não se fizer da Inovação e Criatividade os "enablers" estratégicos duma nova atitude perante a participação individual em sociedade. O evento "Business Innovation" que traz a Portugal especialistas como Kjell Nordstrom, Henry Chesbrough e Peter Skarzinsky é um importante marco na discussão desta pretendida mudança de agenda.

A importância estratégica que a temática da Inovação e Criatividade assume justifica uma participação activa da sociedade civil na discussão dos caminhos que se têm que definir daqui para a frente. Há claramente um sentido de urgência no envolvimento dos "actores operacionais" (Estado, universidades, centros I&D, empresas) na abordagem estruturada das opções que estão em cima da mesa na definição dos investimentos a realizar. A vinda destes especialistas a Lisboa afigura-se neste contexto muito oportuna: a mensagem de mudança e de abertura a um novo compromisso que terão ocasião de deixar bem expressa será certamente um sinal de confiança para com os desafios que se colocam à economia e sociedade portuguesa nos próximos tempos.

Mudar a agenda para agendar a mudança é um desafio colectivo no qual a participação individual se configura como estrategicamente mais do que necessária. O objectivo de consolidação da Sociedade do Conhecimento em Portugal não se pode fazer por mero decreto e face à dimensão estratégica assumida pelos objectivos da sustentabilidade torna-se fundamental que o Estado, as universidades e os players empresariais na área das telecomunicações firmem um verdadeiro pacto estratégico sobre as parcerias a desenvolver para a implementação de plataformas em que os cidadãos se revelem nesta nova lógica participativa que cada vez mais é o Portugal 2.0.

A participação empreendedora da sociedade civil neste amplo movimento de reflexão estratégica sobre as novas temáticas para o futuro do país fecha o circuito. São boas as notícias que nos chegam quanto à oportunidade de afirmação da Plataforma Construir Ideias, na linha do capital de intervenção de prestigiados "Think tanks" como é o caso do Policy Network ou do Bruegel, entre outros. Também aqui a actualidade estratégica da temática energética veio ao de cima, corporizada na discussão profunda sobre as questões suscitadas pela opção do nuclear como fonte energética alternativa em Portugal. Trata-se duma matéria polémica e a sua abordagem torna-se fundamental para sustentar opções que se venham a fazer daqui para a frente.

A construção duma Sociedade da Inovação e Criatividade é um desafio complexo e transversal a todos os actores e exige um capital de compromisso colaborativo entre todos. Em 2009 Portugal é já claramente um país da linha da frente em matéria de infra-estruturas de última geração na área das telecomunicações e da produção de novas fontes de energia. Assumir o desafio duma perspectiva estratégica de aposta num novo modelo de economia sustentável, centrada na Inovação e Criatividade, implica por isso saber dar resposta às solicitações das várias frentes e acima de tudo tomar de forma consciente opções sobre qual as melhores soluções a adoptar para o futuro.

A Estratégia de Lisboa em que assenta o compromisso para o futuro de Portugal e da Europa é um processo em permanente renovação. Assumir o desafio das melhores opções para Portugal numa Europa indefinida e num mundo global complexo passa por saber discutir as questões que estão em cima da mesa. A Inovação define uma agenda que tem que ser "agarrada" com sentido de futuro. Por isso, os "diálogos" que a partir de agora se vão desenvolver um pouco pelo País vai são um sinal de resposta ao desafio. O primeiro passo é dado com o "Business Innovation" em Lisboa. Esperemos que os resultados correspondam às expectativas.


Gestor do Programa Operacional Sociedade do Conhecimento

in Jornal de Negócios

O actual momento é de ouro!



NUNCA VI TANTA GENTE A QUESTIONAR-SE SOBRE A VALIDADE DOS SISTEMAS INSTITUÍDOS, muitos deles verdadeiros cancros à modernização e COMPETITIVIDADE do país que nos une.

Julgo que é consensual que reside no empreendedorismo a chave para a dinamização da economia. E neste domínio há muito para fazer.
Desde logo, EDUCAMOS OS NOSSOS FILHOS PARA SEREM FUNCIONÁRIOS, num modelo de trabalho que se esgotou na geração dos nossos pais. Os rendimentos sobre o trabalho dos nossos filhos vão variar directamente com a sua produtividade pelo que os modelos de "endividamento para toda a vida e depois dela" valem hoje o mesmo que os fundos Madoff.

Por outro lado, O ESTADO NÃO SABE LIDAR COM O EMPREENDEDORISMO: Sendo o maior cliente nacional, porque não promove a partilha de conhecimento através de equipas mistas e multidisciplinares com estruturas de comunicação actuais ao invés das tradicionais "comissões" que mais se assemelhavam a reuniões de condomínio?

Mas para tudo isto precisamos de uma estratégia forte. Precisamos de compreender a geografia dos clusters e NÃO SOFRER CONDICIONALISMOS para explorar as oportunidades emergentes.

Um exemplo:
Estive recentemente a oportunidade de participar numa conferência onde a maioria dos presentes já colabora em conjunto há mais de uma década. Tratava-se do sector turístico do Algarve. Foram aquelas pessoas que decidiram COLECTIVAMENTE que Portugal tinha condições para se afirmar como destino de golfe a NÍVEL GLOBAL.
Hoje, 35% dos turistas mundiais que praticam golfe indicam Portugal como destino de eleição. E esse resultado, que se traduz em receitas significativas na economia portuguesa, mais não é do que o resultado da união de empresários, políticos e investigadores num objectivo comum.
Por curiosidade, entende HOJE este grupo de trabalho que o TURISMO RESIDENCIAL pode ser uma nova oportunidade de afirmação do turismo de Portugal angariando NOVOS POVOADORES provenientes de economias mais abastadas que a nossa.

INTERIORIDADES: ENTRE MITOS E REALIDADES


A palavra em si, “interioridades”, possui densas conotações psicanalíticas e intimistas, geográficas e etnográficas, e, ultimamente, tem vindo mesmo a tomar contornos míticos que urge reposicionar, sob pena deste termo servir de “pau para toda a colher” nas teses políticas de sinal contrário, e confundir a cidadania sobre as prementes questões territoriais, demográficas, sociais, económicas, sanitárias, educacionais, ambientais, culturais, políticas e administrativas, que impendem sobre o que comummente se denomina hoje por “questão da interioridade”.

Sobre esta questão, no actual contexto, e porque de questão se trata, enunciemos com pertinência os principais dados do problema, do nosso ponto de vista, e, como ponto de vista.

Primeiro, este debate não dispensa uma análise desmistificadora das ideologias dominantes em matéria de desenvolvimento, e daquilo que não feito e porque o não foi, como daquilo que foi feito e de que modo o foi.

Esta necessidade assenta na constatação de que naquilo que se fez até agora muito erro de perspectiva se cometeu, e que muitas sanguessugas e rémoras de interesses ilegítimos estiveram sempre disfarçadamente coladas a programas e acções vocacionadas para o desenvolvimento do país e do interior.

Também não dispensa uma análise fina e pormenorizada da situação actual e dos valores que defendemos para um território e suas comunidades de vida sustentáveis.

Como modelo de desenvolvimento, desde já dizemos que nos parece errado encarar as necessidades e lógicas de desenvolvimento sustentável do interior nos moldes em que foram e têm sido perspectivadas, guiadas por critérios que já abriram falência, designadamente as lógicas de desenvolvimento materialista e economicista, assente em lógicas do lucro e no consumismo, em vez de se atenderem às necessidades e valores essenciais à qualidade de vida das populações e comunidades locais.

Os sinais anunciados pelos decisores nacionais e locais em matéria de acções e projectos previstos para aproveitar os fundos comunitários do QREN são anunciadores de megalomanias, caprichos ou lógicas eleitoralistas nacionais e autárquicas que auguram repetidas oportunidades perdidas.

O interior, antes tudo, precisa de se afirmar como identificação territorial, cultural e social e apostar convictamente na valorização do seu património endógeno.

Porque, no passado, nesta matéria, fizeram-se pequenas e desacreditas acções de índole folclórica e sem investimento crítico e estruturante.

Nunca se apostou de forma séria em conservatórios de artes e ofícios tradicionais regionais. O artesanato e as artes e ofícios foram sempre vistos como pequenos animadores de feiras locais oportunistamente montadas para fins contrários aos legítimos interesses dos artesãos.

Os autarcas do interior, de um modo geral, têm praticado a política do cimento armado anárquico, ao sabor dos interesses alheios ao bem comum, e do centralismo urbano em detrimento das comunidades rurais.

Se perguntarem aos decisores locais o que entendem por desenvolvimento imaterial sustentável, vão rir-se na vossa cara!

JOÃO SERRA DOS REIS

José Maria Prazeres Pós-de-Mina nomeado pela revista OneWorld


The mayor of one of Portugal's smallest and poorest municipalities has launched one of the largest green business initiatives in the world, and now he's spearheading an eight-country project to create communities run entirely on renewable energy.

Artigo completo sobre a nomeação das personalidades do ano pela revista ambientalista OneWorld

Viver na Cidade ou no Campo?!


Professor catedrático na Universidade do Minho, José Mendes tem estudado a dinâmica das cidades e o ordenamento do território. Em 1999 publicou o estudo 'Onde viver em Portugal - uma análise de qualidade de vida nas capitais de distrito'. À GINGKO sistematizou as vantagens e desvantagens da vida nos grandes centros e nos meios mais pequenos. Solução? Desenvolver as cidades médias.

GINGKO - Depois do êxodo rural, há quem fuja dos grandes centros. É possível conciliar a cidade e o campo?

José Mendes - A questão campo versus cidade é hoje mais pertinente do que nunca. Avanços recentes no domínio das comunicações e da desmaterialização das actividades permitem alimentar a ideia de que é possível a qualquer um manter-se profissionalmente activo e integrado e, simultaneamente, viver fora dos meios congestionados das grandes urbes. Isto é verdade e... não é verdade.

G - O que distingue os dois meios?

JG - Num extremo estão as grandes cidades onde tudo acontece: os negócios, as oportunidades, os eventos, a cultura, o entretenimento, as melhores escolas. E também o congestionamento, o tráfego, a poluição, e a habitação mais cara. No outro extremo está o campo onde nada acontece: nem negócios, nem oportunidades, nem eventos, nem cultura, nem entretenimento, nem boas escolas. E também não há congestionamento, nem tráfego nem poluição, e a habitação é mais barata.

G - Onde se vive melhor?

JG - Depende do conceito de qualidade de vida. Se os almoços de negócios e as peças de teatro estão na rota da minha qualidade de vida, então quero estar na grande cidade. Se acho que as horas desperdiçadas em filas de tráfego ou o ruído ensurdecedor das ruas carregadas de tráfego arruínam a minha qualidade de vida, então quero viver na tranquilidade do campo. Mas, se preciso de almoços de negócios e também não quero estar horas dentro do automóvel em filas infindáveis? Bom, aí a questão não é líquida.

G - Qual a solução?

JG - A solução ideal seria que as grandes cidades funcionassem de forma mais sustentável, com bons transportes públicos, muitos parques, esquemas de acalmia de tráfego, pistas cicláveis, regras de controlo de poluição e ruído. Ou ter áreas rurais com boa acessibilidade, boas escolas, banda larga e eventos culturais. Isso é possível? Talvez. Cidades como Viena, Copenhaga ou Sydney deram passos importantes nesse sentido. Áreas rurais de alguns países nórdicos também evoluíram favoravelmente. Nem umas nem outras fazem o pleno. No balanço da contabilização da qualidade de vida, as cidades, mesmo as megacidades, continuam a levar vantagem. Isto porque o Homem é uma espécie com comportamentos e necessidades marcadamente sociais, que vive e se realiza através da interacção, do movimento, da riqueza e da sinergia que resulta da concentração de pessoas e de actividades. O campo pode ser tranquilizador e ter o rótulo de inspirador, mas é na cidade que nasce a criatividade, que se forjam os artistas e as obras que referenciam a nossa existência.

G - Portanto, o melhor é viver em cidades?

JG - Apesar de tudo, mesmo com as cidades a levar vantagem enquanto destino da nossa felicidade e garante da nossa qualidade de vida, a poluição e as filas de trânsito continuam lá. E ninguém gosta delas. Enquanto não temos cidades ideais, se é que algum dia existirão, a solução mais equilibrada é viver nas cidades médias. Têm hoje muito do que se encontra de bom nas grandes cidades e pouco do que se encontra de mau nessas mesmas cidades. Os recursos virtuais, a banda larga na cidade média, colmatam muito do que um profissional activo e cidadão exigente precisa para se realizar.

G - E onde se vive melhor em Portugal?

JG - Nas cidades médias. Temos cidades médias? Sim e não. Sim porque existe Braga, Coimbra e Aveiro, com elevadíssimo potencial, apenas parcialmente realizado. Não porque não há uma política de cidades médias em Portugal, o que faz com que as três referidas estejam muito aquém do potencial que encerram, e que outras como Évora e Faro simplesmente não descolem. E porque é precisa uma política de cidades médias em Portugal? Porque é a melhor solução para o país e, sobretudo, para Lisboa e Porto. É nas cidades médias que reside boa parte do nosso futuro. Que lufada de ar fresco seria para este país, se nas eleições autárquicas de 2009 os candidatos deixassem na gaveta os planos de mais infra-estruturas e apresentassem visões e propostas centrados na qualidade de vida e na competitividade das suas cidades.

in Gingko

Portugal tem de mudar "tão rapidamente quanto possível" a sua estrutura produtiva - Cavaco Silva


"Para conseguirmos de facto competir no mercado global, temos de alterar tão rapidamente quanto possível a estrutura da nossa produção", afirmou Cavaco Silva, na inauguração de um novo edifício do Tecmaia -- Parque de Ciência e Tecnologia da Maia.

O chefe de Estado elogiou o "esforço que Portugal tem vindo a desenvolver" na inovação e tecnologia, mas sublinhou que é necessário "fazer muito mais".

À semelhança do que tinha feito momentos antes na Efacec, em Matosinhos, Cavaco Silva considerou o Tecmaia "um bom exemplo" do caminho que a economia portuguesa deve seguir para se tornar competitiva.

Empreendedorismo, cultura de inovação e aposta na investigação são as três áreas em que, na opinião do Presidente da República, o Tecmaia tem dado um "contributo muito positivo".

Cavaco Silva afirmou que gosta de "apresentar bons exemplos", para "aumentar a auto-estima" dos portugueses.

"Neste tempo que atravessamos, de notícias que nos caem todos os dias sobre as nossas cabeças, notícias de recessão, às vezes mesmo de depressão, de índices de confiança a níveis baixos historicamente, estive há pouco noutro caso de sucesso, a Efacec", salientou.

O Presidente da República reconheceu que o Tecmaia "nasceu de uma adversidade", a transferência para outro país da antiga fábrica da Texas Instruments e Samsung, mas sublinhou a atitude positiva do então presidente da Câmara da Maia, Vieira de Carvalho.

"Perante uma adversidade, não se baixou os braços", frisou, enaltecendo o facto de o Tecmaia ser o segundo parque tecnológico do país em nível de desenvolvimento, depois do TagusPark, com 48 empresas instaladas.

FZ.
Lusa

in RTP
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